Eu, particularmente, que já me aproximo dos 40 anos, escreveria "alunos e alunas" se quisesse enfatizar a inclusão de todo mundo em um comunicado. Não usaria "alunxs", especialmente porque me angustio ao pensar nessa pronúncia. E também porque, reconheço, um certo atavismo reacionário me invade o peito quando tentam subverter a nossa língua. Em resumo, coisa de velho.
– Nossa língua é tão linda – eis uma clássica frase de velho com a qual, inclusive, eu concordo.
Mas não se sinta ofendido, querido leitor, caso seja mais velho do que eu. Quero dizer que já passamos da adolescência. Foi-se o tempo do colégio. E, no colégio de hoje, o mundo é outro: é muito possível, senão provável, que algum aluno viesse corrigir o meu comunicado, dizendo conhecer pessoas que, ao menos por enquanto, não se sentem nem aluno nem aluna. E que, sendo assim, o melhor seria escrever "alunxs" ou "alunes".
Professores da Escola Municipal São Pedro, em Porto Alegre, têm feito isso – eles usam a linguagem neutra, como mostrou reportagem de Karine Dalla Valle em GZH. Alguns velhos acham uma besteira. Entendem que só existe mulher ou homem e, frequentemente, pregam uma espécie de pedagogia do silêncio: não digam às crianças que há homossexuais, bissexuais, transgêneros, intergêneros etc, porque elas podem acabar se extraviando. Como se as crianças fossem burras a ponto de se engajar sem necessidade em um caminho no qual constatam, pelo bullying de cada recreio, que é árduo e doloroso.
O fato é que silenciar esse assunto não adianta nada – pelo contrário, só distancia a escola dos próprios estudantes. Porque os alunos querem (e vão) falar disso. Qualquer estudo sobre as novas gerações diz que os adolescentes estão cada vez "mais fluidos": rejeitam rótulos, estereótipos, certezas definitivas, empregos eternos, tudo isso.
– Essa linguagem sem gênero nunca foi uma imposição de um grupo de professores. Há uma demanda dos alunos em relação a isso – me disse o psicólogo escolar do Colégio Santa Inês, Leonardo Garavelo, que é professor de Psicologia Social e Comunitária na Unilasalle.
Como exigir que a linguagem permaneça igual se os conceitos de identidade estão sendo revistos?
A Escola São Pedro, que provocou a fúria de vereadores, não se manifestou até o momento. Mas a questão central é: como exigir que a linguagem permaneça igual se os conceitos de identidade estão sendo revistos? Não só pelos acadêmicos, mas pelos próprios adolescentes. É óbvio que, se a identidade muda, a maneira de se expressar vai mudar também.
Claro, alguém dirá que os professores deveriam ensinar a norma culta – e é evidente que eles ensinam. Os adolescentes têm contato com palavras como "alunxs" e "alunes" o dia todo nas redes sociais; não serão os professores que vão fazê-los dissociar o que é coloquial do que é formal. Mas também é obrigação da escola preparar os pais para tanta mudança.
Nós, os velhos, ainda escrevemos alunos e alunas. Nem todos têm proximidade com esse debate – são novas formas de falar, de escrever, e alguns têm o direito de estranhar. Qualquer colégio deve satisfações à comunidade escolar, e os pais fazem parte dela. Velhos também precisam aprender.