Embora não esconda o otimismo, o secretário de Saúde de Porto Alegre, Mauro Sparta, prefere agora ser cauteloso – dá para dizer que ele está "vacinado", com o perdão do trocadilho.
No dia 2 de fevereiro, em uma entrevista à coluna, Sparta disse acreditar que o pior da pandemia tinha ficado para trás. Não tinha: o período mais dramático viria algumas semanas depois, com hospitais em colapso e pacientes morrendo por falta de leitos de UTI.
– Quando falei aquilo, não havia ainda a nova cepa no Rio Grande do Sul. Agora minha convicção é de que realmente o pior já passou. A queda nos indicadores, somada ao avanço da vacinação, aponta para isso. Mas já vimos que é difícil prever tudo o que pode ocorrer – pondera o secretário.
Sparta lembra que, no momento mais crítico, as quatro unidades de pronto-atendimento da Capital enviavam à secretaria até 120 novos pedidos de internação por dia. Ontem, segundo ele, foram apenas quatro. Ainda assim, não custa frisar que as UTIs continuam com lotação superior a 100% – no fim da tarde, eram 67 doentes em estado grave aguardando uma vaga.
Mas é inegável que os índices vêm recuando. Questionado sobre quais são os motivos dessa queda, ou seja, o que deu certo no combate à crise, Sparta evita mencionar como acerto as restrições mais duras às atividades econômicas – que foram lideradas pelo governador Eduardo Leite e criticadas pelo prefeito Sebastião Melo.
– Há uma série de razões para a situação estar melhorando. Com a superlotação dos hospitais, as pessoas começaram a se cuidar mais, porque sabiam que, se precisassem de uma internação, teriam imensa dificuldade. Isso fez as aglomerações diminuírem. E é claro que, com menos gente circulando, o vírus também passou a circular menos – avalia o secretário.
Para ele, aliás, o que levou Porto Alegre ao ápice do descontrole, entre fevereiro e março, foram as aglomerações no Carnaval – e não o afrouxamento das restrições que, naquela época, preocupava epidemiologistas.
– Com certeza a causa daquele pico não foi o comércio aberto – ele diz.
Com 275 mil vacinados com a primeira dose, Porto Alegre entrará em uma fase ainda mais tranquila, conforme Sparta, quando atingir 440 mil imunizados – cerca de 70% da população dos grupos prioritários. A partir daí, ele acredita que tanto a circulação do vírus quanto a pressão no sistema de saúde devem despencar. Tomara.