Estima-se que cerca de 700 espécies de seres marinhos tenham ingerido debri gerado por lixo humano, principalmente plástico. Nossa espécie confecciona montanhas de plástico, mas apenas o utiliza uma ou duas vezes – 14% do plástico gerado é sistematicamente reciclado. Estudos mostram que 90% das aves do mundo consomem plástico como parte da sua dieta regular.
O plástico que vai envelhecendo quebra em pequenos pedaços, gerando um confete letal, cheio do petróleo do qual é feito, difícil de remover das águas e das praias onde se acumula. Além disso, age como uma esponja, acumulando água e vários compostos tóxicos. Quando ingerido, é impossível de ser degradado, e libera lentamente toxinas, garantindo àquela ave ou peixe que a ingeriu uma morte certa, lenta e dolorosa.
Como espécies maiores comem as menores, o plástico sobe também na cadeia alimentar, até chegar de volta novamente para os humanos, no peixe pescado que consumimos. O plástico descartado pode ser incinerado, colocado em lixões como aterros, ou jogado no mar. Em grandes cidades costaneiras, estima-se que o equivalente a um caminhão de lixo de plástico seja jogado no mar por minuto.
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No ritmo atual, em 2025, devem ser quatro caminhões por minuto. São 165 milhões de toneladas de plástico no mar. Há um tempo atrás foi notícia a ilha de lixo plástico maior que o estado do Texas – algo como três vezes o tamanho do Uruguai – que existe no Oceano Atlântico. Hoje sabemos que na verdade já existem cinco dessas ilhas, cada uma em um Oceano diferente (Indico, Pacifico Sul, Pacifico Norte, Atlântico Sul, Atlântico Norte). Até na Antártida encontramos plástico.
Em meio a esse cenário desesperador, Boyan Slat, um jovem empresário holandês, surgiu com uma iniciativa revolucionária. Desde os seus 16 anos – na verdade ele ainda parece ter 16 anos – ele iniciou uma campanha de crowdsourcing e fundou uma empresa, a Ocean Cleanup, para encontrar uma solução não apenas sustentável, mas lucrativa. Como o plástico está espalhado pelo mundo, a empresa criou um protótipo de costa artificial, flutuante, ancorado no fundo do mar, a ser colocada próxima das ilhas de plástico, deixando as correntes marítimas fazerem o trabalho pesado de empurrar os resíduos até essa barreira, que funciona como um filtro.
Quando o lixo plástico fica concentrado ali, ele é retirado, e transportado para fábricas em terra, onde um time de engenheiros e químicos derrete esse lixo, transformando-o primeiro em fitas e depois em pequenas pastilhas, que são iguais ao plástico gerado pela primeira vez nas indústrias petroquímicas, podendo ser utilizado por industrias diversas como a automobilística e moveleira. Os objetivos: limpar o máximo de plástico com o mínimo de custo, e gerar lucro e empregos.
Outros pesquisadores como Jeannette Garcia, que trabalha para a IBM, inventaram um processo químico que pode melhorar isso. O processo usado por Boyan pode ser repetido algumas vezes, mas reciclagem química pode regenerar o plástico de volta à sua unidade básica, tornando ilimitado sua reciclagem. O plástico não precisaria mais ser produzido, apenas reaproveitado.
Segundo Boyan, as pessoas sempre assumem que um problema complexo precisa de uma solução complexa e desistem. Esse plástico que ele está reciclando foi produzido nos anos 1950. É para essas pessoas, que enxergam a mina de ouro num lixão, com um olhar inovador, que precisamos educar, e acima de tudo legislar. Ao invés de proteger quem originou um dos mais devastadores problemas mundiais.