A maior foto de 2015 é da crise de refugiados. Um homem, na fronteira da Sérvia com a Hungria, passando um bebê para alguém do outro lado de uma cerca. A luz é a lunar, arames farpados demonstram que por ali "é proibido cruzar", e os olhos do homem são de interpretações múltiplas. A arte da foto está nesse olhar.
Tem desespero ou esperança? E, com toda a dor dessa foto, admiro boquiaberto os que têm a solução fácil de uma adversidade como essa. Pois há verdades, fatos. Há o fugir desesperadamente do terror, abandonar lar, recomeçar a vida, sobreviver. E há vários países que receberam refugiados recentemente, vivendo problemas sérios com eles.
Na mesa do bar e no Facebook, locais mais perigosos para discussões sérias, há extremos. "Um muro para segurá-los" ou "chegou a hora de o Ocidente opressor receber toda a maldade que espalhou durante centenas de anos". Patéticas saídas, porque elas aumentam ódios e, claro, os problemas.
Na Alemanha, setores da imprensa, da política, da cidadania, dizem que é o típico enfrentamento de culturas. A mulher, na muçulmana, não ocupa o mesmo espaço já conquistado no mundo ocidental. Então, homens criados com o sentimento de que são melhores/maiores/superiores chegam na Europa e rompem regras, leis. Um problemão.
Os das teses da vingança entendem que chegou a vez de acabar com a cultura imposta por Grécia, Roma, América. Uma nova ordem mundial!
O que fazer então? Bem, a humanidade se estabeleceu migrando, emigrando, refugiando- se, fugindo de fome, pestes, guerras, infernos. É comum que, se as dores do mundo persistem, aceitemos essas pessoas.
Não há maneira de muros ou de um mundo imposto com regras e crenças religiosas únicas segurarem seres humanos que, se precisarem, vão se mexer no mapa-múndi. E esse bebê da foto, quando crescer, já vai saber que as regras do lugar que o acolher serão as da sua vida. Depois, maiorzinho, que ele tenha um bom emprego e movimente a economia do seu canto (o que fez, ao longo da história, a grande maioria dos refugiados, em todos os cantos do mundo, inclusive aqui, no Rio Grande do Sul). Se pecados cometer, a dura lição da lei o esperará. Regras rígidas.
Porque, no final, tudo pode ser como minha mãe falava quando íamos visitar outra família. "Lá, meu filho, respeita as regras da casa deles. Te comporta".
Saídas patéticas
Luciano Potter: migrantes, emigrantes, refugiados
Coluna publicada na edição dominical de ZH em 21 de fevereiro de 2016
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