A Câmara de Vereadores de Porto Alegre decidiu alterar o símbolo de atendimento prioritário e reserva de vagas em espaços públicos para idosos. Agora, no lugar da figura do homem curvado de bengala aparecerá um sujeito ereto acompanhado pelo número 60 e pelo sinal de mais. A justificativa é plausível: a mudança do pictograma acompanha a evolução das condições de saúde da população idosa. Atualmente, é muito comum que uma pessoa de 60 anos se mantenha ativa e com boa saúde física e mental. Tanto que a Itália já está elevando para 75 anos o limite de idade para que uma pessoa seja realmente considerada idosa.
Muito razoável, portanto, a retirada da bengala das placas indicativas. A troca simbólica, porém, evidencia uma questão ética que os parlamentares preferem ignorar: se os sessentões de hoje estão em boa forma como o novo desenho indica, por que precisariam dos privilégios assegurados pela legislação? O certo seria que as vagas mais acessíveis e as facilidades em filas fossem concedidas a pessoas que efetivamente têm dificuldade para se movimentar e para esperar. A idade cronológica nunca foi mesmo um parâmetro confiável, até mesmo porque a diferença entre uma pessoa com 59 anos e 11 meses é insignificante em relação a outra que já passou dos 60.
Sei que não é fácil equacionar esse dilema, que também ocorre em relação à maioridade penal em nosso país. Tudo leva a crer que muito em breve os menores de 18 anos ficarão sem a muleta da imaturidade, que hoje os preserva de penalização maior quando cometem algum crime. Sinceramente, não sei como se pode fazer justiça nesse caso. Como as pessoas não são padronizadas, a imposição de novo limite baseado na idade será sempre arbitrária.
Voltando ao caso das placas e à minha faixa etária, eu – que já carrego o sinal de mais há bastante tempo – tenho administrado a minha consciência com a renúncia dos privilégios que a legislação me assegura. Sempre penso que aquela vaga especial pode ser melhor aproveitada por uma pessoa que realmente precisa. Pode até parecer vaidade, mas entendo que o espírito da lei – mais do que a própria lei – é que deve ser respeitado. Isso não me livra, porém, de olhares de censura e até de observações irônicas de pessoas que exigem o “cada um na sua”.
Paciência. Não perdem por esperar. Como ensina a Esfinge da mitologia grega, o animal que caminha com quatro pés pela manhã e dois ao meio-dia fatalmente terá a sua tarde de três pernas.