
Só no início desta semana, o Banco Central da República Argentina (BCRA) vendeu cerca de US$ 500 milhões para tentar conter a alta do dólar blue, que voltou a disparar no país vizinho. O problema é que essa intervenção, embora necessária para dar alguma estabilidade ao mercado de câmbio, debilita ainda mais as reservas cambiais o que, por sua vez, afeta a cotação da moeda.
Nesta quarta-feira, o dólar informal mais usado é cotado a 1.285 pesos argentinos, maior valor em seis meses conforme o jornal Ámbito, especializado em informação financeira.
Na terça-feira, o ministro da Economia, Luis Caputo, não descartou mudanças no regime cambial, admitindo adotar o sistema de livre flutuação, o mesmo aplicado no Brasil:
— A Argentina é um país que pode flutuar, desde que existam as condições macroeconômicas.
Como as declarações de Caputo contrariam suas próprias opiniões contrárias, expressadas tanto como consultor, antes da indicação, quanto como já ministro, foram atribuídas à pressão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para negociar a pesada dívida da Argentina, superior a US$ 40 bilhões, com vencimento importante previsto para o próximo mês.
Como resultado, as ações de empresas argentinas caem e o risco país volta a subir, depois de queda notável nos últimos meses. Ex-presidente do Banco Nación (equivalente ao Banco do Brasil), o economista Carlos Melconian alertou sobre os riscos de sair do atual sistema de câmbio controlado, chamado por lá de "cepo":
— A flutuação é um caminho de chegada, não de partida. Esse foi o erro do presidente Macri (Mauricio, em cujo governo Melconian atuou). Não se pode ir à flutuação porque se vai à híper (inflação). Não vai flutuar.
Na dúvida, o mercado busca proteção e pressiona ainda mais a cotação do dólar. A turbulência financeira ocorre em uma fase em que o governo Milei enfrenta, ainda, um recrudescimento de protestos populares nas ruas.