Agora está mais claro quanto as decisões do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, podem determinar a inflação no Brasil. Ao menos para os que consideram fatos e dados, não crenças. O avanço da guerra comercial pressionou o câmbio, logo o custo de vários produtos, que mais cedo ou mais tarde vão esvaziar os bolsos dos consumidores.
Mas o risco Trump para a economia não se restringe nem ao mercado americano nem a uma eventual recessão nos EUA. É bom lembrar que nem o próprio negou o risco, só tentou justificar o momento difícil no caminho da "America great again".
Os reflexos das decisões econômicas e estratégicas de Trump podem levar a recessão a outras longitudes. Na semana passada, o Parlamento Europeu aprovou aumento de gastos com armamento, diante das evidências de que não podem mais contar com o parceiro estável dos últimos 80 anos. É tão polêmico que provoca divergências internas na direita e na esquerda.
A medida ainda precisa ser aprovada pelos Congressos nacionais, mas já provoca inquietação. É bom lembrar que os países da União Europeia seguem com endividamento elevado para seus padrões habituais depois dos gastos com a pandemia e da grande crise de 2011. Agora, precisam elevar despesa que não se traduz em melhora imediata no nível de vida da população.
O valor total previsto é de 800 bilhões de euros, dos quais 150 bilhões viriam de um fundo de financiamento para os governos do bloco se rearmarem. O virtual próximo chanceler (cargo equivalente ao de primeiro-ministro) da Alemanha, Friedrich Merz, defendeu até m "furo no teto" para executar o plano.
A Alemanha tem uma espécie de teto de gastos – Schuldenbremse, ou literalmente "freio na dívida" – que Merz admite afrouxar ainda mais. As regras que limitam investimentos em defesa no país já haviam sido flexibilizadas logo depois do ataque da Rússia à Ucrânia, mas agora as cifras se multiplicaram.
No plano, esses gastos não serão considerados para fins de metas fiscais. Mas tanto no Brasil quando na UE, o fato de não afetar a métrica não significa que não haverá desembolso, que precisará ser compensado.
E o dia depois de amanhã será uma dívida pesada, a mesma que expôs a Grécia, há uma década, enfrentar todo o rigor da austeridade europeia. Como nem em países desenvolvidos dinheiro nasce em árvore e será necessário quitar esse financiamento, o risco de recessão espreita.
Yanis Varoufakis, ex-ministro de Finanças da Grécia que renunciou ao cargo no dia seguinte a uma vitória de Pirro – do tipo que "ganha, mas não leva" de seu governo – já avaliou o movimento como "a próxima grande loucura da UE". Pode ser. Ou não. Mas é resultado claro de outra loucura.