
Dados do mercado de trabalho apresentados nesta sexta-feira (28) reforçam as contradições sobre a desaceleração da economia, que o Banco Central (BC) tenta induzir à custa de juro alto e aumento da dívida. Por mais estranho que soe fora dos círculos econômicos e financeiros, o melhor a esperar, a essa altura, é que o crescimento da economia seja de fato calibrado.
Há pouco, o Ministério do Trabalho mostrou os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). E houve novo recorde no saldo positivo: 432 mil empregos com carteira assinada a mais em fevereiro de 2025. É o maior saldo mensal da nova série histórica iniciada em 2020, 40,5% acima de fevereiro de 2024.
Para dar uma ideia de quanto surpreendeu, as expectativas do mercado estavam por volta de 220 mil vagas de saldo positivo, quase a metade do efetivamente registrado.
Pela manhã, o IBGE havia anunciado que a taxa de desemprego subiu de 6,1% para 6,8% no trimestre móvel encerrado em fevereiro em relação ao período anterior. É uma desaceleração.
Mas a massa de rendimentos, possível combustível de inflação, alcançou novo recorde, de R$ 342 bilhões. Teve variação positiva de 0,1% em relação ao trimestre anterior, o que equivale à estabilidade estatística, mas segue na máxima e com sinal positivo.
Deterioração significativa
No mesmo dia, pesquisa publicada pelo próprio BC apontou que a maioria das empresas do setor produtivo vê "deterioração significativa" na situação econômica entre novembro do ano passado e fevereiro deste ano. É um novo levantamento do Banco Central, chamado Firmus, que está na quarta edição-piloto.
Conforme o BC, foram ouvidas 156 empresas para captar "a percepção de empresas não-financeiras quanto à situação de seus negócios e às variáveis econômicas que podem influenciar suas decisões".
Essas contradições são típicas de início de ciclo de aperto monetário – leia-se juro levado às alturas. Alguns segmentos são afetados antes do que outros. Embora existam sinais diferentes, é importante que o BC avalie os que estão no cenário para graduar a próxima decisão, no dia 7 de maio. Está prevista nova alta, desta vez sem martelo batido sobre o tamanho. Será o melhor momento para lembrar da máxima que a diferença entre remédio e veneno é a dose.