É um exercício de risco acompanhar as idas e vindas da tática comercial americana. Só no primeiro dia útil da semana anterior ao do suposto início da vigência, houve expectativa de maior flexibilidade seguida de sinais de recrudescimento.
Então, antes de abordar a perspectiva do dia, é preciso alertar: tudo pode mudar no minuto seguinte. Ainda assim, é preciso tentar acompanhar. A informação do dia é benigna para o Brasil: as tais "tarifas recíprocas" se limitariam a países que têm barreiras não tarifárias e grandes superávits comerciais com os EUA.
Como a coluna já demonstrou, o Brasil tem até um pequeno déficit nas relações comerciais, ou seja, compra mais do que vende aos americanos. E isso ocorre de forma constante há ao menos uma década, como mostra o gráfico acima.
Portanto, não haveria justificativa, desse ponto de vista, para novos obstáculos, especialmente em um momento em que é a produção brasileira de ovos que socorre os americanos. Mas a lógica, como se sabe, não mora na Casa Branca.
Na manhã desta quarta-feira (26) – tudo pode mudar no minuto seguinte – a expectativa é de que as maiores vítimas das "tarifas recíprocas" sejam Japão, União Europeia, México e países tão insuspeitos como o Vietnã, que tem o quarto maior superávit na balança comercial, ou seja, vende aos EUA US$ 122 bilhões a mais do que compra.
No gráfico abaixo, estão "os 15 sujos", simpático nome que o United States Trade Representative (USTR, principal órgão de comércio exterior do país, aquele do "sub do sub do sub") deu aos que têm os maiores superávits na balança de exportações e importações. O Brasil, claro, nem aparece.
Como economistas americanos e brasileiros já cansaram de explicar, em muitos casos o tamanho desse superávit é resultado mais de decisões de empresas americanas do que da competência nacional, embora esse segundo fator não deva ser subestimado.
Mas o principal responsável é o chamado outsourcing, ou seja, o deslocamento da produção para terceiros países. No caso do Vietnã, houve forte "exportação da produção" de tecnologia da informação – daí a necessidade de não subestimar, convenhamos que dá até inveja –, que deve somar só neste ano cerca de US$ 700 milhões, com crescimento anual estimado em 16%.