
O jornalista Mathias Boni colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Analistas do mercado financeiro voltaram a elevar a projeção de inflação no Brasil para 2025. Conforme o Relatório Focus publicado nesta segunda-feira (10) pelo Banco Central (BC), a estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano cresceu de 5,65% para 5,68% nesta semana.
O aumento na projeção afasta ainda mais o índice do teto da meta de inflação estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para 2025, a meta é de 3% de inflação, com a tolerância podendo chegar ao máximo de até 4,5%.
A partir de janeiro deste ano, em linha com as principais práticas internacionais, a meta da inflação se refere ao valor acumulado em doze meses, apurada mês a mês, também conhecida por "meta contínua". Se a inflação ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos, a meta é considerada descumprida — neste caso, o Banco Central tem de divulgar publicamente as razões do descumprimento por meio de nota no relatório de Política Monetária e carta aberta ao ministro da Fazenda.
Foi exatamente isso que o presidente do BC, Gabriel Galípolo, precisou fazer em janeiro, pois a inflação no Brasil fechou 2024 com o acúmulo de 4,83%, já acima da meta. Na ocasião, Galípolo culpou principalmente a alta do dólar e a percepção negativa sobre o cenário fiscal no país para o resultado, fatores que ainda hoje seguem afetando esse cenário.
— Há ainda alta nos preços de serviços, preços de alimentos, no câmbio, então todo esse cenário corrobora por uma inflação que deve continuar acima da meta estabelecida. É uma preocupação se afastar ainda mais da meta, mas o Banco Central já até sinalizou que é provável que não se cumpra com a meta se continuar esse cenário, e portanto o Galípolo vai ter de escrever uma segunda carta. A previsão é que a inflação vai continuar subindo no Brasil, e o Copom deve continuar subindo o juro nas próximas reuniões — afirma o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung.
Cenário afeta o juro
A alta da inflação, que impacta diretamente o poder de compra da população, deve contribuir, portanto, para a continuidade do ciclo de elevação da taxa Selic previsto para os próximos meses. Atualmente em 13,25%, a projeção do Focus é que a taxa encerre 2025 em 15% ao ano, com contínua elevação do juro para buscar desacelerar a atividade econômica e baixar a inflação.
— O cenário de inflação se mantém parecido, sem perspectivas de inflação na meta de 3% ao ano mesmo quando olhamos para prazos mais longos, como 2027. Nesse sentido, talvez o juro precise subir um pouco mais do que os 15% esperados pelo mercado, especialmente se o governo seguir adiante com medidas de crédito e impulsos fiscais que atrapalhem o processo de lenta desinflação — complementa o economista Reginaldo Nogueira, diretor nacional do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec).
Inflação longe do centro da meta
Para 2026 e 2027, o Focus desta semana manteve as projeções da semana anterior. Os especialistas ouvidos consideram que o IPCA deverá fechar o próximo ano com acúmulo de 4,40%, e de 4% no ano seguinte.
Em janeiro, o acumulado dos últimos 12 meses do IPCA caiu de 4,83% para 4,56% — ainda acima do teto da meta. A próxima atualização do índice, relativa a fevereiro, será divulgada nesta quarta-feira (12).
Os outros principais indicadores medidos pelo Relatório Focus se mantiveram estáveis nesta semana em relação à semana anterior. Mesmo após o resultado de 3,4% de crescimento do PIB em 2024, divulgado na última sexta-feira (7), a projeção dos especialistas para o PIB deste ano se manteve apontando elevação de 2,01%.
As previsões para o câmbio também se mantiveram estáveis nesta semana. O mercado segue prevendo que o dólar encerre 2025 sendo cotado a R$ 5,99 — para 2026, a projeção é que a moeda norte-americana chegue a R$ 6, e em 2027 R$ 5,90. Nesta segunda, o dólar encerrou o dia cotado a R$ 5,852.
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