
O resultado de 5 votos favoráveis e nenhum contrário para aceitar a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete acusados era esperado.
O que surpreendeu foram as palavras fortes usadas nos votos dos ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). "Ditadura mata" foi expressão usada tanto por Flávio Dino quanto por Cármen Lúcia, que foi além:
— Ditadura vive da morte, não apenas da sociedade, da democracia, mas de seres humanos de carne e osso.
A única ministra do STF foi além: revelou um bastidor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no conturbado dezembro de 2022. Relatou que havia algo que muitos ainda não compreendiam completamente e, por isso, pediu a antecipação da confirmação do resultado:
— A diplomação foi antecipada para o dia 12 de dezembro. Porque o risco existia, e a responsabilidade exigia ação.
Antes, a ministra havia sido cumprimentada pelos colegas depois do elogio feito pelo governo dos Estados Unidos ao sistema de biometria, coordenado por ela.
Ao falar do 8 de janeiro, Cármen disse que não foi um acaso, mas resultado de um plano golpista elaborado há mais tempo. Afirmou que considerava um "dever" aceitar a denúncia, porque os ministros são temporários, mas as instituições constituem o país:
— Nós somos passageiros, o Supremo é do Brasil.
Para que isso seja percebido por mais brasileiros, será importante levar em conta a ponderação de Luiz Fux, que defendeu a necessidade de ter “humildade judicial” na definição das penas. Nada pode ser mais útil em meio à polarização e à desinformação.
Cármen Lúcia afirmou que, daqui para a frente, será preciso individualizar a participação de cada réu na tentativa de ruptura institucional:
— O que é preciso é desenrolar do dia 8 para trás, para chegarmos a esta máquina que tentou desmontar a democracia. Porque isso é fato.
Tanto é fato que a maioria dos advogados de defesa nem tentou contestar o plano de golpe, apenas a participação de seus clientes – e em um caso, a contribuição de um não acusado até agora.