
Na reunião desta quarta-feira (19), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) completa o roteiro anunciado em dezembro, de um choque de 3 pontos percentuais no juro básico dividido em três parcelas. No comunicado em que dá essa missão por cumprida, a direção do BC avisou que haverá nova alta na próxima reunião, em 7 de maio. Mas será "de menor magnitude", ou seja, abaixo de 1 ponto percentual, entre 0,75 e 0,5 p.p.
Depois da reunião anterior, o mercado havia reclamado da falta de "forward guidance", ou seja, de sinais claros para as próximas decisões. A expectativa era de que não houvesse novamente, mas o Copom preferiu mostrar o caminho.
O novo aumento projetado para maio é fruto da preocupação com a alta de preço, que aparece na frase "persiste uma assimetria altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação". Depois disso, o BC volta para a fase "dadodependente":
"Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária".
Ao citar os "componentes mais sensíveis à atividade econômica", o BC reforça o desejo de "calibrar o crescimento" expressado no início do ano pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
A falta de sinais para as reuniões além de maio tende a prejudicar a famosa "ancoragem das expectativas", ou seja, será mais mais difícil prever os próximos movimentos. Mas ao menos agora o Copom tem fortes argumentos para não se comprometer com movimentos específicos.
Donald Trump na presidência dos Estados Unidos não apenas desorganiza o mercado internacional com ameaça de tarifas, projeta risco de recessão da economia americana e até na União Europeia, que quer se rearmar diante da falta de confiança do parceiro estável dos últimos 80 anos. A situação apareceu na primeira frase do comunicado:
"O ambiente externo permanece desafiador em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente pela incerteza acerca de sua política comercial e de seus efeitos".
O aumento do juro é a única ferramenta que o BC tem para frear a inflação. O governo Lula chegou a adotar medidas para tentar frear preços, mas a eficácia, na melhor das hipóteses, é incerta.