O resultado anual do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) é a perfeita síntese do momento doce e amargo da economia brasileira. Em 2024, subiu acima das previsões, 3,8%. Em dezembro, caiu mais do que o esperado, 0,73% em relação ao mês anterior.
O dado de dezembro reforça a expectativa de desaceleração para este ano, que já havia sido acentuada no Relatório Focus do BC na semana passada. Essa perspectiva se intensificou no publicado nesta segunda-feira (17), com nova redução nas projeções de crescimento, agora de 2,03% para 2,01%.
É importante observar que essa desaceleração é o efeito desejado do choque de juro anunciado pelo BC como forma de frear a inflação. Como repetido nos vários comunicados e atas das mais recentes reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa básica é "contracionista", ou seja, deve ser capaz de produzir essa redução na atividade econômica.
Em dezembro, houve recuos em todos os setores: 0,5% nos serviços, 0,3% na indústria e 0,1% no varejo. Na avaliação dos economistas, os fatores que levaram à expansão de 3,8% no ano passado não devem se repetir neste: desemprego em mínimas históricas, aumento de massa salarial, melhores condições de acesso a crédito e forte elevação de benefícios sociais.
A forte alta do dólar no final do ano passado decorreu de temores com a política comercial do novo mandato de Donald Trump na Casa Branca e de um corte de gastos considerado insuficiente, por economistas e pelo mercado financeiro, para frear o endividamento do Brasil. Isso provocou a aceleração da inflação que, agora, corrói a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
É por isso que se discute, na equipe econômica, concentrar bloqueios e contingenciamentos já na primeira revisão de receitas e despesas, prevista para março. Para isso, é claro, primeiro é preciso aprovar o orçamento, o que está previsto para só depois do Carnaval. Da boa transição entre o muito doce e o levemente amargo vai depender se haverá de fato apenas a desaceleração desejada ou se poderá ocorrer uma recessão, ainda que técnica.