Na primeira projeção pública sobre a economia do ano, o economista-chefe do Itaú, Mário Mesquita, disse não descartar o risco de recessão técnica – dois trimestres seguidos de queda no PIB – mas considera "difícil" que ocorra.
A estimativa de Julia Gottlieb, integrante da equipe focada em Brasil, é de que a boa safra agrícola tende a levar a uma alta do PIB de 1% no primeiro trimestre. Isso significaria um "carrego" (espécie de impulso para os trimestres seguintes) no ano de 1,5%, mesmo sem avanço nos demais períodos de três meses. A coluna perguntou se isso significa que uma recessão estaria descartada, Mesquita respondeu assim:
— Projetamos para o segundo semestre um crescimento médio de 0,2% por trimestre. Como é suficientemente próximo do zero, não descarto recessão técnica, mas acho difícil ver neste ano que deve começar com carrego de 1,5%. Deve ser outro ano de crescimento positivo, mas um ou outro trimestre de PIB um pouco abaixo de zero não dá para descartar.
Na visão de Mesquita, o Banco Central (BC) terá de continuar a elevar o juro para domar a inflação: depois da próxima alta de 1 ponto percentual em 19 de março, para 14,25%, prevê novos aumentos de 0,75 ponto, ainda fortes até para padrões brasileiros.
Para voltar a ter juro de um dígito, afirmou o economista, só há um caminho: retomar a política de teto de gastos, que vigorou de 2016 a 2022 – ainda que cheio de furos no último ano.
— Achar que vai ter juro civilizado com a política fiscal que o Brasil tem tido é meio autoengano. Independentemente do resultado da eleição (de 2026), seria importante, se o governo quiser de fato que o BC persiga a meta de inflação, voltar ao regime de teto de gasto — argumentou.
Indagado se de fato esse seria o único caminho, respondeu "sim" e voltou a insistir:
— Se quiser juro mais baixo, tem de voltar para o teto. Se não quiser o teto, vai ter de se resignar a juro mais alto.
Sobre o dólar, a projeção do Itaú é até benigna: deve ficar em torno de R$ 5,78 neste ano – em média, não cotação no final do ano –, mesmo que Mesquita tenha leitura negativa sobre o efeito das tarifas americanas:
— Devem provocar mais inflação e menos crescimento global, com menor espaço para baixar juro nos EUA, talvez até para subir. E, desta vez, não vai beneficiar o Brasil, que já tem fatia de mercado na China muito elevada. E agora pode ser alvo.
O ex-diretor do BC afirmou ter conversado com investidores estrangeiros e percebido mudança:
— Tenho notado maior interesse no Brasil, até porque os preços dos ativos estão tão baixos que passaram a ser pechinchas. A taxa de juro também atrai. O investidor está comprando, primeiro, depois desenvolvendo uma narrativa. Ainda há ceticismo, mas estou vendo predisposição favorável, só não unânime.