Com a adoção da tarifa de 25% sobre aço importado nos Estados Unidos, a Gerdau avalia aumentar em até 30% o uso da capacidade instalada em unidades americanas. Segundo o CEO do grupo siderúrgico, Gustavo Werneck, esse é o nível de ociosidade dessas plantas. Ocupar capacidade de produção não exige investimento adicional, depende apenas de pedidos, detalhou. Cerca de 40% da produção total do grupo está nos EUA. Acrescentou que, em contraste, o modelo adotado pelo governo brasileiro "tem sido ineficaz na defesa do mercado nacional e precisa ser urgentemente modificado":
— Estamos olhando de forma positiva a defesa comercial nos EUA. Até por isso, é frustrante para a indústria brasileira de aço não ver o governo do Brasil sendo célere. Em março, vamos inaugurar um investimento de em Minas Gerais, com 250 mil toneladas de bobinas a quente, na expectativa de que possamos vender produtos no Brasil. Se não houver defesa contra concorrência predatória da China, teremos de reavaliar o nível de investimento no Brasil — disse o CEO.
A expectativa, detalhou Werneck, é de "nas próximas semanas" seja anunciada alguma medida adicional ao sistema de cotas adotado no ano passado. O limite para definir investimentos no Brasil seria até o final de março. Em todo o mundo, a Gerdau estima aportar R$ 6 bilhões neste ano, mesmo valor de 2024.
— A discussão é sobre onde estarão os empregos no futuro, no Brasil ou na China. Temos debatido com o governo federal, mas a frustração é que passados oito meses da implementação do sistema de cotas e sobretaxas e, com clareza de dados e fatos de que não está funcionando, o governo não seja mais célere — respondeu Werneck à consulta da coluna sobre o estágio das conversas com o governo Lula.
Conforme Rafael Japur, diretor financeiro da Gerdau, no ano passado, o patamar de mercado abastecido por importação, que costumava ser de 10%, dobrou. E 70% veio da China.
— Não tem com competir com aço que entra no Brasil com preço menor do que o custo — afirmou Werneck, confirmando que, se não houver providências, a Gerdau pode rever seus investimentos no Brasil.
O executivo afirmou há diferença entre "proteção" para segmentos não competitivo e "defesa" para um setor que tem competitividade, mas não consegue atuar em condições de igualdade porque o governo chinês subsidia o aço para manter o emprego no país.
Em 2024, a Gerdau teve lucro líquido ajustado de R$ 4,3 bilhões, 37,5% menor do que o registrado no ano anterior. A receita do grupo foi de R$ 67 bilhões, resultado de vendas físicas de 11 milhões de toneladas de aço em todo o mundo. Segundo Werneck, para o primeiro trimestre a perspectiva para o Brasil ainda é positiva, mas a partir do segundo trimestre uma "desaceleração adicional" pode afetar clientes do grupo, como construção civil e indústria automotiva.
No ano passado, a Gerdau anunciou que estudava investir no México, na onda da estratégia nearshoring (movimento de levar a produção para perto dos EUA). Como o país da tequila também será afetado por tarifas americanas, a decisão prevista para até o final de 2024 foi adiada para junho deste ano.