A vitória de Fernanda Torres como melhor atriz em filmes de drama do Globo de Ouro 2025 é um daqueles momentos de reafirmação de identidade nacional. Especialmente porque a obra em que atua é, também, um documento histórico para o país.
Primeira produção original da Globoplay, Ainda Estou Aqui já passou de 3 milhões de espectadores, só em cinemas. Foi a quinta maior bilheteria de 2024 no Brasil, o que significa que rivalizou com blockbusters planejados para bombar no público óbvio.
Uma das muitas leituras que esse desempenho, o prêmio de Fernanda e as ainda esperadas indicações para o Oscar permitem é a de que ainda existe espaço para a indústria criativa nacional propriamente dita, não apenas a desenhada com foco em um suposto – ou até verificado – "gosto médio".
Em suas redes sociais, a atriz afirmou que o filme de Walter Salles "mostra ao mundo que não estamos brincando em serviço e a entrega é de qualidade". Ainda avaliou que "o que vier desse processo é a ponte que construímos para as próximas gerações".
A produção cultural prescinde de resultados econômicos para se justificar, por ser uma demanda inerente à humanidade. Mas quando um fenômeno como esse se concretiza, é bom lembrar seu peso.
Em levantamento do Ministério da Cultura de 2023, a economia criativa era responsável por 3,11% do PIB e empregava cerca de 7,5 milhões de pessoas em cerca de de 130 mil empresas formalizadas.
A façanha de Ainda Estou Aqui não é óbvia, assim como não é a abordagem de um período negro da história do país. Ao contrário de simulacros mal-acabados que aprofundam sem sentido feridas deixadas por essa época, a obra oferece uma visão ainda dolorida, mas que leva a uma vida ativa e produtiva, literalmente apesar dos pesares.