Embora testando novos recordes nominais, o dólar segue acima de R$ 6, mesmo com sucessivas intervenções do Banco Central (BC) no mercado de câmbio e sinais de que o pacote de corte de gastos começa a ser votado no Congresso.
Só nesta segunda-feira (16), o BC ofereceu mais US$ 4,6 bilhões, dos quais US$ 1,6 bilhão à vista e US$ 3 bilhões em leilão de linha. Foi o bastante para fazer a cotação se afastar de um eventual novo recorde nominal - a máxima do dia foi logo no início das operações, em R$ 6,097. Mas não para descer ao patamar anterior.
Na semana passada, o BC já havia vendido US$ 4 bilhões em dois outros leilões de linha na quinta e, na sexta-feira, um extraordinário colocou mais US$ 845 milhões no mercado. A dose de intervenção, portanto, já chega a cerca de US$ 10 bilhões.
Como disse à coluna o ex-diretor do BC Tony Volpon, a instituição atua com foco em evitar uma forte saída de capitais. Volpon afirmou, ainda, que um momento raro de baixa no dólar, nos últimos dias, ocorreu por "percepção de que Lula não será candidato, por problemas de saúde".
No pronunciamento-surpresa feito ainda no domingo pela manhã, no Hospital Sírio-Libanês, Lula deu um sinal que passou meio batido. Mas um político com a experiência do presidente não pronunciaria esta frase sem pesar suas repercussões:
— E eu quero, dia 31 de dezembro de 2026, entregar esse Brasil mais alegre, esse Brasil sem fome, esse Brasil com mais emprego, esse Brasil com mais respeito, esse Brasil sem fake news, esse Brasil sem mentira.
E ainda reforçou:
— (...) quero deixar a Presidência da República do mesmo jeito que eu deixei em 2010.
Ou o mercado não prestou atenção, ou essa percepção já não faz o mesmo efeito. No Relatório Focus desta semana, o BC mostra que a maioria dos economistas consultados vê o dólar em R$ 5,99 no final deste ano e em R$ 5,85 no final de 2025. Há pouco espaço de manobra, se não surgirem novidades no cenário.