Embora não possa ser considerada tecnicamente surpreendente, porque foi precedida de uma perspectiva positiva, a melhora da nota de crédito da agência de classificação de risco Moody's causou perplexidade entre economistas e operadores do mercado financeiro que fazem projeções mais negativas para o Brasil.
O repertório de humor ácido e crítica direta incluiu frases como "Moody's fez o L?" e "premia fiscal ruim". Os mais ponderados lembram que se trata de melhora de nota, não de situação, porque o Brasil segue com grau especulativo (veja detalhes abaixo).
O day after da decisão da agência de classificação de risco ilustra essa redação: o dólar abriu o dia em queda significativa (0,7%) e fechou com baixa muito discreta (0,36%), enquanto a bolsa começou animada (+1,7%) e encerrou só positiva (0,7%).
Quem compartilha da visão ligeiramente mais otimista da agência de avaliação de crédito - é bom lembrar que a Moody's estimou estabilização da dívida para o médio prazo - vê erro na crítica à decisão da agência.
— A reação exacerbada de alguns analistas evidencia o que venho apontando há algum tempo: o mercado errou, erra e provavelmente irá continuar errando suas projeções — avalia André Perfeito, capaz de fazer autocrítica de seus próprios equívocos.
Ele pondera que a perspectiva atual do Brasil "inspira cuidados", mas considera que quem vê situação de dominância fiscal - quando a situação das contas públicas fica tão ruim que a política monetária perde o efeito - e até eventual "quebra" do país está projetando cenários "um pouco além do razoável".
Agências de classificação de risco não são infalíveis. Na quebradeira de bancos que começou em 2008, várias instituições que derreteram da noite para o dia tinham avaliações de topo. Algumas eram até AAA. Claro, foi uma situação sem precedentes.
Mas até porque precisam manter sua credibilidade, também não costumam distribuir notas como afagos. A situação fiscal do Brasil "inspira cuidados", como diz Perfeito? Com certeza. A coluna já tratou desse assunto em profundidade. Mas o mercado também vem errado - constantemente para baixo - as projeções de crescimento do Brasil.
Qual é o papel das agências de rating?
Como a coluna já comparou, o papel das agências de rating é semelhante ao da Serasa no Brasil. Todo brasileiro sabe que, se estiver "na Serasa", não tem acesso a crédito regular e, se precisar desesperadamente de um empréstimo, terá de recorrer a fontes menos respeitáveis, digamos assim.
O que avaliam?
Fitch, Moody's e S&P respondem por cerca de 80% do mercado global de avaliações de risco. Avaliam, basicamente, o risco de calote: se a possibilidade de inadimplência for grande, o crédito vai custar mais caro. Se é baixo, tomar ou rolar os empréstimos custará menos.
O que as notas significam?
A classificação das agências parece boletim de escola, mas como tem mais escalas parece uma sopa de letrinhas e sinais. Vai do exclusivo AAA e vai até o D de "default", calote no idioma do mercado financeiro. Para facilitar o entendimento, as mais de duas dezenas de combinações são divididas em três grupos:
- O primeiro é chamado "grau de investimento", que o Brasil ambiciona recuperar, apelidado de "clube de bons pagadores" para facilitar a compreensão, que tem dois subgrupos, um de "alta qualidade", outro de "média".
- O segundo tem o nome educado de "grau especulativo", mas ganha apelidos depreciativos: "junk bonds", ou "títulos podres". É onde o Brasil está agora.
- O terceiro é tão ruim que nem apelido formal existe, mas a coluna já classificou de "inferno", onde nenhum país quer entrar e todos querem sair. A Argentina está aqui.