No final da manhã, os gráficos que registram variações do dólar oscilavam quando, subitamente, começaram a apontar para baixo. Mal haviam começado a surgir os relatos de declarações dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet.
Os sinais mantiveram a cotação abaixo do patamar de R$ 5,40 durante quase todo o dia. E fechou em R$ 5,367, com recuo de 0,73%. De onde veio o alívio? Haddad afirmou que a revisão de gastos do governo "está ganhando tração":
— Eu e a Simone estamos conversando cada vez mais sobre isso. Gasto primário tem de ser revisto, gasto tributário tem de ser revisto e gasto financeiro do Banco Central também.
Na véspera, Tebet havia dito a parlamentares que está em debate no governo a possibilidade de desvincular a política de valorização do salário mínimo de alguns benefícios como abono salarial, seguro-desemprego e Benefício de Prestação Continuada (BPC), como freio à despesa pública. Fez questão de dizer que a medida não incluiria aposentadorias:
— Não passa pela cabeça do presidente Lula nem da equipe econômica desvincular a aposentadoria do salário mínimo. Estamos analisando a possibilidade de modernizar benefícios previdenciários e trabalhistas.
Corta para esta quinta-feira (13): perguntado sobre essa discussão, Haddad a confirmou que se trata da posição da "área econômica".
— Estamos sintonizados. O fato de a Fazenda cuidar mais da receita e o Planejamento da despesa não significa que não estejamos trocando impressões sobre a viabilidade das propostas.
Foi aí que o dólar inverteu o rumo.
Corta de novo, desta vez para Genebra, na Suíça, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de evento na Organização Internacional do Trabalho (OIT). Instado a comentar sua relação com Haddad, tema favorito nas mesas de operação do mercado na véspera, foi sucinto e teve até um pequeno ato falho:
— Não tem nada com o Haddad, ele é um extraordinário ministro da Defesa (há pouco tempo, o alvo de ataques internos era o ocupante dessa pasta), não sei qual é a pressão contra o Haddad. Todo ministro da Fazenda (repete, percebendo a gafe), desde que me conheço por gente, vira o centro dos debates, quando a coisa dá certo, quando a coisa não dá certo.
"A coisa não dá certo" é uma clara alusão à medida provisória que Haddad enviou ao Congresso e foi parcialmente devolvida pelo Senado, não sem antes Lula dizer a interlocutores que seria retirada, antes de informar o ministro. Mas, por ora, o mercado entendeu o recado como uma mensagem de apoio ao titular da Fazenda e cedeu uma trégua.
Os fatores de pressão cambial
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos. Em maio, saíram da chamada "conta financeira" US$ 11,434 bilhões, recorde para o mês de maio desde 1982.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção.
Eleições na Europa: embora fosse esperado o crescimento das bancadas que questionam a União Europeia, a expressiva votação da extrema direita na França fez o presidente Emmanuel Macron convocar eleições em seu país, o que eleva a incerteza na economia.