A demora na volta das operações no Salgado Filho acabou criando uma disputa por um aeroporto alternativo. Os candidatos com maior visibilidade são o Vila Oliva reforçado e outro antigo projeto, que ficou conhecido com o nome de 20 de Setembro.
Ambos têm ajustes em relação ao projeto original. O Vila Oliva ambiciona não ser mais apenas um terminal regional, enquanto o 20 de Setembro, que seria entre Nova Santa Rita e Portão, ficou só no segundo município para não ter conflito de espaço aéreo com a Base Aérea de Canoas e fugir de inundações.
— Sobrevoamos agora na enchente e absolutamente seca. Não somos capazes de prever o que vai acontecer na aviação em 50 anos, mas já reservamos espaço para atender a um investimento por mais de 50 anos. A Fraport tem contrato com o Salgado Filho por 20 anos, depois não se sabe o que vai acontecer — diz Nelson Riet, que coordena o comitê em defesa do 20 de Setembro.
Riet diz que não há qualquer investidor à vista para tocar o projeto, que seria totalmente privado. Lembra que o plano começou a ser esboçado há cerca de 15 anos, quando o empresário que criou a Azul, o americano David Niemann, sugeriu a criação de um aeroporto regional no Vale do Sinos.
A ambição internacional surgiu por provocação do ex-comandante do V Comar, Nivaldo Rossatto, quando ainda estava no cargo. A área destinada é de 22 quilômetros quadrados, o que daria a um aeroporto instalado lá o posto de segundo maior por esse critério no Brasil. O Salgado Filho, lembra, é o menor das capitais em área.
— Gostaríamos muito que a Fraport fizesse o projeto. Eles tem feito um excelente trabalho, temos de ter consideração — afirma Riet, que não descartar a hipótese de interesse de "algum chinês".
Sobre o fato de a alternativa de Vila Oliva estar mais adiantada em licenças e autorizações, afirma que o Regulamento Brasileiro de Aviação Civil (RBAC) permite que "qualquer cidadão" construa aeroporto, desde que se enquadre às regras de segurança. Cita como exemplo o Aeroporto Catarina, em São Paulo, construído pela JHSF, grupo imobiliário focado em projetos de luxo (saiba mais clicando aqui).
Ainda falta um estudo de viabilidade econômico-financeira, que teria de ser feito pelo governo federal ou por um investidor interessado. O coordenador do comitê pondera que, um aeroporto não se sustenta por si só, precisa de hotéis, shopping, centro de convenções e até capacidade para ter um centro de manutenção de aeronaves.
A coluna perguntou a Riet a respeito de especulações sobre interesses políticos e econômicos no 20 de Setembro. Conforme o coordenador do comitê, existe um documento que prevê compromisso de todos os envolvidos hoje de não ter qualquer participação no projeto, como sociedade na implantação ou propriedade de terrenos que foram objeto de decreto de área de utilidade pública pela prefeitura de Portão. E detalhou:
— São áreas que pertencem a pequenos agricultores. O documento assinado por todos nós prevê que ninguém iria comprar terra lá.
Do ponto de vista logístico, diz Riet, o 20 de Setembro ficará acessível com a ampliação prevista da BR-448. A área é atendida, ainda, pelas conexões viárias com a BR-290, a ligação com Santa Maria/Santa Cruz do Sul, Passo Fundo e Bento Gonçalves. Sustenta, ainda, que representaria uma "economia gigante":
— A maioria dos aviões para Porto Alegre vêm do Norte e passam por cima do nosso futuro aeroporto. Um minuto de Boeing 737 custa cerca de US$ 90. Se economizar 10 minutos em cada voo e multiplicar por 150 diários, é fácil verificar a redução (seriam US$ 135 mil ao dia).
Apesar da disputa por projetos, parece haver um consenso entre os candidatos a ser a alternativa ao Salgado Filho:
— O RS precisa de uma solução para Porto Alegre. Não podemos ficar só com uma pista. Precisamos, no mínimo, de outro aeroporto — diz Riet.