Na véspera deste Dia do Trabalhador no Brasil, o IBGE atualizou a taxa de desemprego no país: 7,9% no trimestre encerrado em março, pouco acima dos 7,4% do acumulado entre dezembro e fevereiro. Mesmo assim, foi o menor para o primeiro trimestre desde 2014.
O dado reaqueceu o debate que já vem desde o ano passado: mais e maiores salários geram inflação? Existem até fórmulas para mostrar a relação, embora economistas, como uma premiada pelo Banco Central (BC), ao menos relativizem essa fórmula - ao menos para este momento da economia brasileira.
O fato de que a alta de preços vem desacelerando enquanto o cresce o número de pessoas ocupadas desafia a chamada "curva de Philips" - outra das polêmicas máximas de manual -, que estabelece relação inversa: a inflação cairia na medida em que o desemprego aumentasse.
Segundo estudo do economista José Márcio Camargo disponível no Blog do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia, veja aqui), um aumento de um ponto percentual na taxa de desemprego - de 7% para 8%, por exemplo - geraria queda da inflação de serviços ao redor de 0,4 ponto - de 4,5% para 4,1%, também só para situar - seis meses mais tarde.
A lógica por trás do cálculo é a seguinte: quanto maior a taxa de desemprego, menor a renda disponível, tanto na quantidade de pessoas ocupadas quanto nos menores salários aceitáveis, porque há mais necessidade dos trabalhadores em aceitar a remuneração ofertada.
O resultado dessa combinação seria menor consumo de bens e serviços. Sempre em tese, quanto menor a demanda, maior a competição entre empresas para vender, com menor apetite para aumentar preços. Se essa é a teoria, na prática nada disso vem acontecendo na vida real, especialmente desde o ano passado.
Alguns economistas reconhecem que a situação desafia os manuais, outros não veem qualquer "enigma" diante dos dados objetivos de emprego e aumento da massa salarial. Entre as explicações, estão desde reformas recentes no Brasil até a mudanças estruturais no funcionamento da economia global, uma vez que esse debate ocorre, em menor grau, também nos Estados Unidos.
Essa discussão será mais intensa dentro de uma semana, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) vai definir o que fazer com o juro básico. Depois que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, apontou quatro cenários possíveis - da manutenção do prometido corte de 0,5 ponto percentual até a uma pouco provável elevação da Selic - será uma das respostas mais cercadas de expectativa dos últimos anos.