O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
Três meses se passaram desde a posse de Javier Milei na Argentina. Com um discurso agressivo ao Mercosul e, sobretudo, ao Brasil na figura do presidente Lula, o mandatário do país vizinho confronta instituições locais, Congresso, Províncias e o Judiciário para implantar medidas impopulares e que restringem a liberdade econômica em nome de atingir uma mesma liberdade econômica, em horizonte nem tão próximo.
O problema é que na atual condição, a argentina, assim como a maior parte dos países, precisa de relações comerciais para abastecer o mercado interno com produtos que não é capaz de gerar no setor primário ou na indústria.
Milei sempre deu a entender que restrições ao Brasil prejudicariam a atividade interna do país comandado por Lula. Esquece-se, todavia, que ele e a Argentina em crise – enfrentando a maior inflação de três décadas, com de 254% em 12 meses, a mais elevada do planeta – são o elo mais fraco e, como tal, tendem a perder mais do que ganhar.
Nesta segunda-feira, o Ministério do Desenvolvimento, da Indústria, do Comércio e dos Serviços (MDIC) divulgará o resultado preliminar da Balança Comercial em março. Será uma nova oportunidade de avaliar o “efeito Milei” que, até o fechamento de fevereiro, havia gerado uma queda de 28%, quase um terço, das exportações nacionais para o vizinho, um dos principais parceiros comerciais.
Foi o pior primeiro bimestre de vendas para a Argentina em toda a série histórica, contabilizada desde 1997. Por outro lado, a exportação total brasileira, nos dois primeiros meses, soma US$ 11,9 bilhões, alta de 145% sobre igual período do ano passado. É o melhor resultado para um início de ano desde 1989.
Os números mostram que há alternativas de mercado, mas são puxados principalmente por petróleo, algodão e café – itens que não frequentam a pauta comercial gaúcha com a Argentina, formada por produtos industrializados. É o caso das máquinas agrícolas e dos calçados, segmento que amargou retração de volume (-24,3%) e receita (-13,6%). As partes e acessórios de automóveis e tratores reduziram em um terço o faturamento e mais de 768 mil as unidades enviadas à Argentina.
Os dados do MDIC de hoje devem confirmar uma tendência: as restrições alfandegárias e de pagamentos impostas por Milei pouco afetam o Brasil, mas muito atrapalham segmentos relevantes para a economia do Rio Grande do Sul.