Se o resultado de 2022 fez a Melnick entrar no "clube do bilhão" em termos de receita líquida, o de 2023 trouxe outro marco: a primeira vez em que o lucro líquido passou de R$ 100 milhões.
Foram exatos R$ 104 milhões, 23% acima do mesmo indicador em 2022. Foi resultado, segundo o diretor financeiro e de relações com o mercado, Juliano Melnick, de aumento de 25% nas vendas líquidas, para R$ 809 milhões e de 20% nos lançamentos líquidos, para R$ 732 milhões.
E por que tem tanto "líquido" no balanço da incorporadora gaúcha? Porque no ramo da construção civil, cada projeto é feito com uma combinação específica com outros parceiros. E, claro, nos resultados conta apenas a parte específica da Melnick. Esse é um detalhe importante porque também embute um sinal de futuro da companhia, detalha Juliano:
— No próximo ciclo de três anos, vamos crescer dentro da nossa parte. Devemos manter certa estabilidade nos lançamentos brutos (com parceiros), mas vamos dividir com menos investidores. Isso é bom para o mercado, porque vamos ofertar uma quantidade semelhante. É uma decisão empresarial, estamos com mais apetite.
Essa estratégia tem relação com os movimentos feitos pela companhia no passado recente. em setembro de 2020, fez um IPO, ou seja, ofereceu ações na bolsa de valores pela primeira vez. Obteve um bom resultado e ficou capitalizada, mas em meio a um "cenário supernebuloso", como define Juliano, foi cautelosa.
— Houve uma mudança gigantesca. Surgiu uma pandemia, o juro decolou, tinha eleição presidencial em país polarizado surgiu uma guerra na Ucrânia. A companhia optou por um crescimento operacional, mas dividimos com investidores para diluir o risco. Agora, o cenário está um pouco mais claro.
Segundo o empresário, dos oito lançamentos feitos no ano passado, 59% estão vendidos, antes do início das obras. Dos sete entregues, 96% foram vendidos.
— Isso nos anima a ficar com participação maior.
Neste ano, o Melnick Day, momento em que a construtora oferece unidades com descontos, gerou contratos que somaram R$ 301 milhões, o que chegou a surpreender o empresário:
— Nos últimos anos, temos nos focado nos segmentos de médio e alto padrão, devido ao juro alto. Temos empreendimentos com menos apartamentos e mais caros, então sobe o tíquete médio. Sempre brinco que o Melnick Day é nosso quinto trimestre.
Nos últimos dias, houve movimentação com ações da Melnick. A Even, construtora paulista que tinha 37,56% das ações da construtora gaúcha, vendeu 8,29% para a Melpar Invest, gestora de investimentos de Leandro Melnick. Em outra movimentação, a Puras Holland Park, do gaúcho Hermes Gazzola, aumentou sua fatia para 10,27%. Mesmo assim, a Even mantém participação relevante na construtora gaúcha.
Para lembrar, em 2015 um grupo dominado por investidores gaúchos, liderado por Leandro Melnick, tornou-se acionista de referência da Even. Entre os participantes, estão as famílias Zaffari, Gazzola e Grendene. Ou seja, as movimentações foram feitas entre sócios das duas empresas.