
Como a coluna havia explicado, a aprovação geral da "Lei Ônibus" só significava que haveria novos embates, sobre cada um dos 393 artigos que sobreviveram dos 664 originais. Na analogia da coluna, era uma carroceria sem motor.
Pois a megaproposta não deu partida, e agora se discute a possibilidade de o presidente Javier Milei fazer as mudanças pretendidas via plebiscito ou decreto. Como se sabe, ambos dependem de aprovação do Congresso. Ou seja, há um impasse.
Para lembrar, o processo legislativo na Argentina é diferente da que existe no Brasil. Aqui, quando um projeto tem votação favorável, todo o texto é aprovado, com apreciação separada apenas de emendas. Lá, é preciso aceitar o conjunto das propostas para, depois, analisar uma a uma.
E uma a uma, foram caindo as propostas de Milei, o que levou a bancada de seu partido ter decidido interromper a sessão de terça-feira (6) e pedido o retorno da "Lei Ônibus" ao ponto de partida, que é a análise em comissões. Na prática, é como se o projeto fosse retirado. O líder de La Libertad Avanza, Oscar Zago, ainda tentou dizer que "não é nenhuma derrota nem passo atrás", só "uma volta a comissão para seguir discutindo".
Mas o tom do próprio Milei foi bem diferente: nesta quarta-feira (7), desde Israel, onde cumpre agenda, acusou os deputados da oposição de "esquartejar" a Lei Ônibus e, com isso, "roubar dos argentinos". Também chamou os parlamentares de "delinquentes" e "bestias" (na Argentina, uma qualificativo pesado, usado no sentido de "animais" para designar pessoas rudes e ignorantes, diferente de "besta" no Brasil, que pode ser "arrogante" ou apenas "tolo").
O governo publicou ainda uma lista de supostos "traidores" - os que não ajudaram a aprovar a proposta. O porta-voz do governo, Manuel Adorni, confirmou, como se especulava, que se estuda o uso de outras "ferramentas constitucionais" (destaque da coluna), como plebiscito ou novos decretos, para aplicar as medidas desejadas.
Diante da reação negativa do mercado - o S&P Merval, principal índice de bolsa de valores locais desabou 8% na manhã desta quarta, o ministro da Economia, Luis "Toto" Caputo, afirmou que a derrota "não afeta nem minimamente" seu programa econômico, porque a "Lei Ônibus" seria apenas um quarto do comboio de medidas para reduzir o déficit fiscal do país.