Os sorrisos de Mona Lisa nas fotos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia (que representa a chefia de governo do bloco) sinalizavam que a ambição de anunciar avanços no acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia até a próxima quinta-feira (7) havia se desfeito.
Depois, circulou a informação de que a reunião técnica prevista para aparar as últimas arestas, no início da próxima semana, havia sido cancelada. O motivo não foi o próximo presidente da Argentina, Javier Milei, que clamava contra o Mercosul. Oque teria travado a conversa foi a posição do atual presidente, Alberto Fernández - que, por ironia, avisou que vai se mudar para a Espanha quando entregar o mandato, no dia 10. Considerado "amigo" por Lula, Fernández vestiu o figurino do "muy amigo".
O problema não foi relacionado a questões ambientais, que preocupavam até o início da COP28, mesmo com o Brasil prestes a ser tornar integrante da Opep. O impasse, segundo se filtrou, foi uma exigência argentina de um fundo de compensação de nada menos de 12 bilhões de euros (cerca de R$ 65 bilhões). E agora?
Lula havia dito que, se o acordo entre Mercosul-União Europeia não fechasse até dezembro, teria fracassado definitivamente, ponderando que, "depois de 22 anos, ninguém acredita mais". Claro, também tentou fazer o possível para anunciar uma conclusão enquanto o Brasil ocupa a presidência rotativa do Mercosul, que termina no dia 7 e passa ao Paraguai.
Então, acabou? Há quem sustente que a nova posição do futuro governo Milei pode dar alguma sobrevida à ambição de livre-comércio entre os dois blocos. Mas é a undécima frustração, depois dos vários ensaios para dar consequência ao comunicado oficial de entendimento feito em 2019. E sempre é bom lembrar: depois do entendimento posto no papel, será preciso que os termos sejam aprovados nos 31 parlamentos dos países envolvidos - uma agenda de mais de ano.