Itai Green é fundador e CEO da Innovate Israel, uma consultoria focada na aproximação de empresas grandes e tradicionais a startups. Atua em tecnologia da informação, finanças e até produtos de consumo. Antes de abrir sua consultoria, atuou na Amadeus, uma pioneira da digitalização aplicada a viagens, segmento que conhece bem. No dia 29, participa do CEO Forum, em Porto Alegre, a convite da Amcham, a câmara de comércio Brasil-Estados Unidos. Avisou que pretende fazer uma exposição mais prática, mas não fugiu do debate da hora: a necessária regulação dos limites da invenção, que nunca foi tão barulhento como no caso da inteligência artificial.
O que faz a Innovate Israel?
Ajudamos grandes empresas e até órgãos de governo a seguir relevantes diante das rápidas mudanças. Aproximar-se do ecossistema de inovação por meio de startups é mais rápido, e ajudamos a fazer essa ponte.
O que o levou a esse tipo de atividade?
Sempre fui empreendedor, depois trabalhei por dois anos na Amadeus, de origem espanhola, mas dentro de Israel. Com o avanço da metodologia de inovação aberta (que exige colaboração com pessoas de outras empresas e organizações), decidi abrir minha empresa de consultoria.
O maior desafio, agora, é colaborar para sobreviver. Ninguém sabe tudo, ninguém pode fazer tudo.
Como você costuma reduzir resistências de grandes companhias em relação à inovação aberta, por temor de competição?
Não há outra alternativa para se manter relevante. Todos têm competidores. Se o seu competidor colabora com startups, segue relevante. Quem não faz pode se tornar irrelevante muito rapidamente. Quando explico o que inovação aberta quer dizer, costumo citar um executivo sênior da Google, que diz que a maioria das pessoas inteligentes trabalha para outras empresas, não para a sua. É claro, estão no Facebook, na Amazon. As pessoas inteligentes estão na academia, nas outras empresas, nas startups. O maior desafio, agora, é colaborar para sobreviver. Ninguém sabe tudo, ninguém pode fazer tudo.
Você conhece bem a indústria do turismo, que foi muito afetada pela pandemia. A tecnologia vai ajudar na retomada?
Percebo uma diferença importante. Quando eu estava na Amadeus, a estratégia era comprar startups maduras. Não estava interessada nas que estavam nos estágios nacionais. Hoje, isso está totalmente diferente. As startups iniciantes têm risco maior, mas são mais baratas, então valem a aposta. E vejo o segmento, como um todo, mais aberto para a colaboração. O melhor exemplo hoje é a Microsoft, que colaborou com a OpenAI (que criou o ChatGPT), e hoje vê o Bing (sistema de busca semelhante ao Google) ganhar mais atenção.
Como você vê os manifestos pedindo regulação da inteligência artificial com o argumento de "risco para a humanidade"?
Os riscos são muito claros. Podemos ficar na posição de que a IA fique mais inteligente do que nós. Os governos já estão começando a definir regulação. A questão é que a tecnologia se move mais rápido do que a política. Mas é uma necessidade. São os próprios desenvolvedores que estão pedindo limites. Essas ferramentas terão grande impacto em quase tudo o que a gente faz. Vai economizar tempo, mas também custar empregos. E a nova tecnologia não pode ser usada só para demitir pessoas, mas para fazer as pessoas fazerem outras coisas. Devem gerar posições. Na apresentação do ChatGPT, surgiu a pergunta se vai substituir humanos. A resposta foi "não, pessoas serão substituídas por outras que sabem como lidar com essas ferramentas". Covid e inteligência artificial são grandes motores da inovação, que terão impacto dramático para obter mais competitividade, mais eficiência, mais relevância. Quem ignorar essa realidade não estará no mercado nos próximos anos.
Qual sua avaliação sobre os primeiros sinais de regulação da União Europeia?
A regulação deve ser fruto de acordo entre governos, usuários e empresas, e realista para alcançar seus objetivos. No caso da IA generativa, é preciso deixar claro do que se trata, para que as pessoas tenham consciência de que não está interagindo com uma pessoa. Não é tão complicado. A regulação da inteligência artificial não é boa só para as pessoas, mas para as empresas. Quando sabem os limites, podem se concentrar no que é legal e não abordar outras áreas, para que seja um processo construtivo para a humanidade.
O sistema de defesa de Israel foi uma grande contribuição para formar uma nação de startups.
Você costuma dizer que a experiência tecnológica da defesa de Israel ajudou a criar inovação no país. Como isso funciona?
O exército foi fator-chave para o sucesso da nação. Há muita inteligência artificial desenvolvida nos sistemas de informação. Os jovens aprendem isso na universidade e ao prestar serviço militar (obrigatório para todos, homens e mulheres em Israel, por até dois anos). O sistema de defesa de Israel foi uma grande contribuição para formar uma nação de startups. Há centenas, milhares de startups no país que trabalham especificamente com IA. Nesse ecossistema com investidores e aceleradoras, as startups competem entre elas, mas também colaboram e compartilham. Não segredos, mas informações. Certa vez, organizei uma visita em Israel de cinco executivos, todos europeus bem-educados. Eles viram cinco apresentações, e a cada vez que mudava a empresa, quem se despedia abraçava e beijava o próximo. No final, vieram me perguntar "o que aconteceu, os concorrentes tinham familiaridade demais?". Essa é a característica única da nossa cultura: quando compartilha, se move mais rapidamente, e as chances de ganhar são maiores.
Como países como o Brasil, que não têm o peso da Defesa nem essa cultura, podem avançar?
Em cada país, há oportunidade para ser relevante e ser capaz de competir. Há tecnologia, universidades, pessoas inteligentes. É uma questão de aprender a inovar e a executar. E há um papel importante do governo, de apoiar, não no aspecto comercial, mas na construção no ecossistema e da cultura. Tenho uma dica muito simples para dar, que não custa dinheiro: ter ao menos um integrante do conselho de administração, ou outra estrutura decisória, especializado em tecnologia e inovação. Isso traz diversidade e conhecimento. Os conselhos não são diversos, são formados pelo mesmo tipo de pessoa, com a mesma idade, a mesma experiência. É preciso ter mais mulheres também. Isso custa zero. E os analistas de mercado adoram inovação. Mas para implementar, precisa ser de cima para baixo. Se os gestores não se engajam, os empregados também não.