Em meio a uma discussão técnica sobre inflação e juro, o ex-presidente do Banco Central Afonso Celso Pastore se exasperou. Ao comentar a situação de conflito entre o governo Lula e o BC, disse que o nível das críticas "colocam a instituição sob ataque".
Nesta sexta-feira (23), ainda sob o ruído provocado pelo comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), a Fundação Getulio Vargas realizou seu nono Seminário Anual de Política Monetária.
Pastore falava sobre a taxa neutra de juro - teoricamente, o nível que não favorece nem freia o crescimento da economia - quando trocou o tom professoral para outro mais agudo:
— O Banco Central é uma instituição sob ataque. Quando o presidente da República se refere a seu presidente como "aquele cidadão", faz um ataque à instituição. Os economistas precisam ter coragem de dar um grito em defesa da instituição que vem fazendo exemplarmente seu trabalho e denunciar o governo que a vem atacando. Essa não é uma conduta que um estadista deveria ter.
Conforme Pastore, o que chamou de "denúncia" é uma forma de reconhecer que o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, não tem a mesma liberdade para reduzir a taxa básica de seu antecessor, Ilan Goldfajn, que criou as condições para o corte à mínima histórica de 2%. O motivo, justificou, é porque não tem o conforto da política fiscal determinada pelo teto de gastos. Para lembrar, Pastore chegou a ser anunciado como coordenador das propostas econômicas de Sergio Moro, antes da retirada da candidatura do ex-juiz à Presidência.