Tadeu Almeida era sócio de uma agência de publicidade até 2015, mas não estava satisfeito com seu trabalho. Questionava quão bem fazia ao mundo, como relatou à coluna:
— Estimulava compra massiva de produtos que não faziam bem para pessoas ou para o planeta.
Quando se focou em projetos digitais, entrou em contato com startups e recuperou o "brilho no olho" ao entender que poderia ter um negócio com pegada ambiental e impacto social positivos. Nasceu a Repassa, hoje o maior brechó online do Brasil, comprada há dois anos pela Renner.
— A escolha do mercado de usados foi óbvia, porque é o produto mais sustentável que existe. Uma nova vida útil não consome recursos naturais — justifica Tadeu.
Além do reúso, estimula a doação de parte dos recursos da venda para entidades que desenvolvem esse tipo de projetos. A Repassa começou recolhendo e revendendo todo tipo de usados, mas ao final do primeiro ano já "pivotou" - alterou seu foco, no jargão das startups - para se concentrar em moda. Também começou sem muita intermediação, apenas fazendo a conexão entre quem queria vender e quem queria comprar.
— Fomos aprendendo como nos diferenciar para ser mais relevantes. Primeiro, nos focamos para ser referência no mercado de roupas usadas. Era o que tinha mais informação e maiores impactos ambiental e social, além de maior demanda de compra e venda — justifica Tadeu.
No segundo ano, veio outra mudança: os clientes tinham dificuldade em pegar peças no guarda-roupas, fotografar e mandar pelo correio. A solução foi um modelo mais gerenciado, em que as peças são enviadas à Repassa, passam por uma triagem, por passadeiras, são fotografadas e, quando compradas, enviadas pela empresa, diz o empreendedor:
— Mesmo cobrando o dobro da comissão, as compras aumentaram, porque as peças eram fotografadas em padrão melhor e as pessoas se sentiam mais seguras em comprar com a gente.
Em 2021, veio a proposta de compra da Renner, que manteve Tadeu à frente do brechó online.
— Sempre tive como norte que o melhor para o negócio vem em primeiro lugar. Com o negócio, a Repassa iria conseguir acelerar seu crescimento, teria acesso a sinergias e tiraria risco da mesa, porque a Renner é sólida e tem caixa. Foi importante saber que era uma empresa com princípios e valores semelhantes, por ser uma referência em moda sustentável — explica, sobre a decisão de vender.
Agora, o cliente pede uma "sacola do bem", que custa R$ 49,99 e envia as peças à Repassa. Pode fazer isso pelo Correio ou, agora, em 87 lojas da Renner no Brasil. A empresa escolhe as peças para venda, passa, fotografa e exibe no site. Sobre as vendidas, cobra 60% do valor pago. O cliente decide o que fazer com os 40% restantes: pode destinar tudo a projetos sociais, mas se preferir receber, pode receber em uma carteira digital e dirigir à sua conta bancária.
Para o futuro, a Repassa quer buscar eficiência operacional, automatizar alguns processos - hoje, já faz preenchimento automático de parâmetros a partir das fotos. Tadeu não descarta, mais adiante, uma espécie de show room físico - no Exterior, já existem até redes de brechós arrumadinhos. O empreendor afirma que estudo do Boston Consulting Group estima o mercado de roupa usada no Brasil em R$ 24 bilhões anuais até 2025.
— Queremos estar nesse ciclo virtuoso do consumo consciente. As novas gerações dão mais importância à sustentabilidade, o que nos incentiva a nos posicionar dessa forma. E nós queremos inspira cada vez mais pessoas a ganhar consciência. No ano passado, tivemos 13 milhões de acessos, repassamos 137 mil peças e encaminhamos R$ 160 mil para doações..