Depois da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) da semana passada, em que o comunicado frustrou as expectativas de sinalização de corte no juro em 2 de agosto - data do próximo encontro - a ata trouxe um leve sopro depois da mordida.
A esperança com o texto completo da discussão da diretoria do BC veio do reconhecimento de "divergência no Comitê em torno do grau de sinalização em relação aos próximos passos".
Conforme a descrição feita na ata, "a avaliação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso (destaque da coluna, entenda no último parágrafo) de inflexão (corte) na próxima reunião". Ufa.
Mas prossegue afirmando que, para "outro grupo", "mais cauteloso", "é necessário observar maior reancoragem das expectativas longas e acumular mais evidências de desinflação". Opa. Traduzindo o banco-centralês, a turma da cautela avalia que a redução da inflação está ainda concentrada em preços que variam com mais facilidade, ou seja, não haveria ainda uma redução consistente e generalizada.
Nesse caso, "reancoragem das expectativas longas" significa que esse grupo espera consolidação da projeções de inflação para 2024 e 2025. Quer dizer, também, que o BC já se comporta claramente como se a mudança no acompanhamento da meta tivesse sido formalizada. Atualmente, a "obrigação" do BC é entregar a inflação dentro da meta até o final de cada ano. A alteração que deve ser formalizada só na quinta-feira (29), na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN).
A exposição da divergência não garante que haverá poda em agosto, mas alarga a "frestinha" que havia sido aberta pelo comunicado. Então, já dá para retirar o diminutivo. Não há porta aberta para o início do famoso "ciclo de baixa", mas agora existe uma fresta. . Não é muito, mas é algo. E, se ocorrer, está lá o "parcimonioso" - palavra que no peculiar idioma banco-centralês equivale a "corte de 0,25 ponto percentual".