Nesta terça-feira (11), a cotação do dólar voltou a trafegar abaixo dos R$ 5, uma importante barreira psicológica. Resultado da baixa de 1,37%, no final da manhã é negociado por R$ 4,997 para venda.
Desta vez, no fundamento da valorização do real frente à moeda americana não está a especulação com o juro alto, mas o forte ingresso de divisas no país.
De janeiro e março, o resultado líquido entre entrada e saída de dólares do Brasil foi de US$ 12,5 bilhões. É o maior para o período desde o primeiro trimestre de 2012, quando alcançou R$ 18,7 bilhões. O mais surpreendente, porém, é o motivo: não vem do chamado "cupom cambial", ou seja, do dinheiro atraído pelo juro alto no Brasil, que oferece grandes ganhos para estrangeiros que troquem suas moedas por real e ganhem em aplicações remuneradas pela Selic.
A surpresa vem da constatação de que quase todo o saldo positivo ter origem no comércio externo: conforme o Banco Central (BC), a conta comercial teve entrada de US$ 12,512 bilhões no período, enquanto o fluxo financeiro permaneceu estável nos primeiros três meses do ano, com ingresso limitado a US$ 12,1 milhões. A balança comercial brasileira teve superávit recorde de US$ 16,1 bilhões de janeiro a março. No lado financeiro, o que ajudou a baixar o câmbio foi o aumento de apostas favoráveis ao real no mercado futuro.
Em tese, a baixa do dólar ajuda a baixar a inflação, porque muitos preços de produtos, mesmo da cesta básica, são formados com base na moeda americana. Por outro lado, causa e consequência embutem uma ambivalência: com real mais forte, exportadores ganham menos com vendas ao Exterior. Ou seja, é um movimento autolimitante.
Esclarecimento: a coluna tem escala para usar os verbos "dispara" ou "despenca". É subjetivo, mas baseado em fatos&dados: oscilações diárias de até 3% ocorrem com certa frequência na bolsa brasileira. Acima, são raras. Por isso, os verbos, digamos, mais "dramáticos" são reservados a variações acima de 3%.
Atualização: na metade da tarde, o dólar voltou para o patamar de R$ 5 - por um fio de cabelo, R$ 5,003. Em compensação, na estrita escala da coluna, a bolsa "dispara": sobe 4,3%, embalada pela desaceleração da inflação para 0,71% em março, confirmando a tendência desenhada pelo IPCA-15. Na visão de analistas e investidores, com inflação menor, o Banco Central (BC) pode acelerar o corte no juro básico. Um dos motivos é que, com a perda de intensidade do aumento de preços, a inflação acumulada em 12 meses caiu de 5,6% para 4,66% - abaixo do teto para o ano. Analistas projetam índices maiores a partir de julho, mas o mercado esticou a antena. Também ajudam o apoio explícito de Lula ao marco fiscal de Haddad e uma elevação nos preços de commodities (matérias-primas como petróleo, minério de ferro e soja).