O jornalista Anderson Aires colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
Em um contexto de inflação alta, mesmo que em desaceleração, e juro estacionado em 13,75% há oito meses, incentivar o crédito no país é um desafio. De um lado, taxas altas afastam parcela dos clientes. De outro, atividade econômica em baixa velocidade e aumento no número de maus pagadores reduzem o apetite por crédito. Lançado na semana passada, um pacote do governo tenta destravar esse sistema para estimular o consumo e acelerar a economia. São 13 medidas básicas, como mudanças na forma da garantias, simplificação no compartilhamento de dados fiscais e desburocratização. Especialistas avaliam que pode ajudar no longo prazo, mas tem pouco efeito no curto, diante da desaceleração da economia.
— Tem pontos positivos, que ajudam a melhorar o mercado de crédito do ponto de vista institucional. Mas o efeito no curto prazo é limitado — avalia o economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank.
Um dos principais pontos do pacote, o novo marco de garantias visa reduzir o custo do crédito. O governo vai apoiar projeto no Congresso que possibilita usar um mesmo bem para garantia em mais de um empréstimo.
Outro aspecto que trava a tomada de crédito no país é o aumento no número de pessoas com contas em atraso. Pesquisa recente da Fecomércio mostra que 41,4% das famílias de Porto Alegre estavam inadimplentes em março — recorde na série histórica desde janeiro de 2018 e o maior patamar para um mês de março desde 2010. A matemática é quase natural: com pendências acumuladas, quem concede financiamento pensa e faz contas duas vezes antes de autorizar. Isso acaba restringindo empréstimos a um número menor de clientes.
Uma das estratégias do governo federal para tentar reduzir a inadimplência é o programa Desenrola, voltado para renegociação de dívidas de pessoas físicas. Estimativas iniciais apontam a intenção de auxiliar ao menos 37 milhões de cidadãos nessa situação. No entanto, problemas operacionais travam o lançamento da ferramenta, que tem apoio da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). A iniciativa também é observada como uma saída emergencial, sem efeito sustentado no combate ao problema do superendividamento no país.
— No curto prazo, pode aliviar algumas famílias, mas não vai resolver o problema. A gente vai seguir com falta de educação financeira e não altera as condições gerais da economia — observa o economista-chefe da CDL.
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