De fora, o Brasil quase sempre é visto como um país de grandes oportunidades e de riscos em proporção equivalente. Aos "habituais" - inflação, baixa previsibilidade, sistema tributário disfuncional -, os últimos quatro anos acrescentaram o risco institucional - em bom português, as constantes bravatas sobre golpe de Estado.
Nunca, até agora, terrorismo foi parte do chamado risco Brasil. Se o ciclo que culminou - até agora - na tentativa de explodir um caminhão de querosene de aviação no acesso ao aeroporto Juscelino Kubitschek, de Brasília para provocar pane no sistema elétrico, não for definitivamente encerrado, pode começar a ser considerado.
Conforme Robson Cândico, delegado-geral da Polícia Civil do Distrito Federal, responsável pela investigação, o suspeito de implantar o artefato, George Washington Oliveira de Souza, disse que sua intenção era "causar o caos". A lógica já fez parte de outros momentos da história recente do país: o tumulto causado pela explosão provocaria necessidade de convocar as forças armadas, que então poderiam agir para impedir o cumprimento da vontade expressa nas urnas, ou seja, a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
Há outros pontos de contato com a realidade recente do país: o George Washington que abomina a democracia participava das manifestações no QG do Exército, em Brasília. Não acampava: alugava um apartamento na capital do país. Tinha registro de colecionador, atirador desportivo e caçador (CAC), mas o documento estava em situação irregular, também conforme informações da Polícia Civil. O explosivo usado no dispositivo, conforme depoimento do suspeito à polícia, veio de um garimpo ilegal no Pará.
— Ele faz parte desse movimento de apoio ao atual presidente. Eles estão imbuídos nessa missão, segundo eles, mas saiu de controle. E as autoridades policiais, em Brasília, vamos tomar as providências e prender qualquer um que atente contra o Estado Democrático de Direito, principalmente com ameaças, e agora com bombas. Isso é algo que nunca existiu em Brasília e não vamos permitir — disse Cândido, reconduzido ao cargo pelo governador reeleito Ibaneis Rocha, aliado de Jair Bolsonaro.
Sempre conforme a Polícia Civil, os participantes das manifestações tentaram acionar o equipamento, mas não tiveram êxito por "ineficiência técnica". As manifestações de representantes do poder constituído apontando o risco já estão nas redes. O presidente do Tribunal de Contas da União se manifestou assim:
O do Senado observou:
Agora que o atual presidente voltou às redes sociais, precisa mostrar que também retomou o controle. Ou convoca seus seguidores, virtuais e físicos, a manter a oposição ao futuro governo dentro das "quatro linhas" - como costuma se referir à Constituição - ou admite arcar com as consequências do estímulo às manifestações e às teses conspiratórias que levaram o país à beira do "caos", ainda que com "ineficiência técnica".