O mercado não mudou. O presidente eleito, também não. Mas nem parece o mesmo país em que, na véspera, o dólar havia havia decolado 4,14%, para R$ 5,397, e a bolsa desabara 3,55%, para o nível abaixo de 110 mil pontos. O que mudou? O cenário, dizem analistas.
Nesta sexta-feira (11), a indicação de que a China vai suavizar sua política de covid zero, cujas regras determinam fechamento total de atividades, animou as bolsas ao redor do mundo e, ao contrário da véspera, o Brasil não ficou de fora. O resultado foi uma recuperação parcial das perdas da véspera, com a bolsa subindo 2,34% e o dólar recuando 1,1%, para R$ 5,33. Na semana, no entanto, a moeda americana acumulou alta de 5,45%.
Talvez tenha ajudado uma entrevista em que o ex-titular da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que não será ministro do novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Afirmou que ficará "na retaguarda, com conselhos e tudo mais". Mas isso foi mais brincadeira entre operadores do que fato, porque a reação se consolidou ao longo do dia, especialmente desde o início da tarde. E Mantega só pronunciou o "não vou" depois das 16h.
Também ajudou a retirar estresse a confirmação da primeira reunião do grupo temático da economia, que reúne André Lara Resende, Guilherme Mello, Pérsio Arida e Nelson Barbosa, porque havia rumores sobre eventual desistência de um dos criadores do Real - Lara e Arida - de participar da transição.
Ao longo do dia, várias pessoas do entorno de Lula - e até bastante fora dele, como o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto - procuraram fazer declarações tranquilizadoras sobre o compromisso fiscal de Lula. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que "responsabilidade fiscal e responsabilidade social têm que ter, por nossa parte, a mesma visão (...), mas nós jamais vamos abrir mão de ter a responsabilidade social em primeiro lugar".
Campos Neto, que permanece no BC até o final de 2024 graças à autonomia aprovada em 2021, afirmou que quer "trabalhar com o governo novo da melhor forma possível" e fez questão de lembrar que "grandes economistas apoiaram o governo" que venceu as eleições.
Ao contrário da véspera, quando os indicadores de empresa ficaram coalhados de quedas de dois dígitos, nesta sexta-feira (11) houve várias altas nessa intensidade, especialmente de exportadoras de matérias-primas básicas, como CSN (16,81%), JBS (11,92%), Vale (10,4%), Braskem (10,31%) e Usiminas (10,58%).