O mercado já não havia gostado do discurso do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, da véspera, e gostou menos ainda do que ouviu nesta quinta-feira (10). Na primeira manifestação feita no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), QG da transição em Brasília, Lula perguntou:
— Por que as pessoas são obrigadas a sofrer por conta de garantir a tal da responsabilidade fiscal deste país? Por que toda hora as pessoas falam 'é preciso cortar gasto', 'é preciso fazer superávit', 'é preciso cumprir teto de gastos'? Por que as mesmas pessoas que discutem com seriedade o teto de gastos não discutem o problema social neste país?
Dólar - para cima - e bolsa - para baixo - reagiram com variações que passaram dos 3%. Mas o humor azedou de vez com novos anúncios de integrantes dos grupos temáticos de transição, feitos no meio da tarde, entre os quais o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Assim que Alckmin terminou de listar os nomes, os movimentos se acentuaram. A bolsa chegou a cair mais de 4%, mas fechou com baixa limitada a 3,35%. O dólar encerrou o dia com alta de 4,14% em R$ 5,397. Enquanto isso, em Nova York, o índice Dow Jones sobe 3,7%, enquanto a Nasdaq disparou 7%, porque a inflação acumulada em 12 nos Estados Unidos caiu de 8,2% até setembro para 7,7% até outubro.
Mantega foi o primeiro nome anunciado para o grupo temático da Planejamento, Orçamento e Gestão. Como se sabe, no futuro governo Lula o atual Ministério da Economia será desmembrado e voltarão as estruturas da Fazenda, do Planejamento e da Indústria e Comércio. Além do ex-ministro, compõem o grupo o deputado federal Enio Verri, a economista da UFRJ Esther Duek e o presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Antônio Correa de Lacerda.
Ao contrário do que ocorreu no grupo da Economia, não há visões opostas - ou sequer "complementares", como caracterizou Alckmin - ao desenvolvimentismo, muito associado à imagem de Mantega. Para analistas, essas escolhas fazem eco às declarações de Lula que indicam mais foco no social do que no fiscal. Por isso, várias ações levaram tombos de dois dígitos, especialmente as anteriormente identificadas como beneficiadas por políticas do novo governo, como Azul (-17,83%), Yducs (-13,92%) e CVC (13,33%).
Além de Mantega, muitos nomes anunciados nesta quinta-feira (10) são de pessoas que já atuaram em governos anteriores. A notável exceção é o grupo da Indústria e Comércio, que tem o ex-governador gaúcho Germano Rigotto, o ex-presidente da Anfavea (associação das montadoras de veículos) Jackson Schneider, Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai, e o deputado federal Marcelo Ramos (PSD-AM).
Mas além dos discursos e das escolhas, o temor do mercado envolve o formato da "licença para gastar". Conforme analistas, desde a véspera circula a versão que prevê exclusão dos gastos com o Bolsa Família ao longo de todos os quatro anos de mandato.