Ainda no início da pandemia, durante uma reunião do conselho curador da Fundação Dom Cabral — escola de negócios que forma executivos para o mercado —, Pedro Passos, sócio da Natura, disse que nunca havia visto a imagem do Brasil tão deteriorada no Exterior e fez uma provocação: que país sairia daquele processo, que tendia a aprofundar a desigualdade?
Dessa faísca, nasceu o Imagine Brasil, um centro de estudos que, na falta de um projeto de país, quer definir aspirações para 2030 de forma colaborativa e vai mobilizar aliados para construir soluções que obtenham um consenso mínimo.
— Não falta diagnóstico, mas o país não tem aspiração. No passado, era o desenvolvimento e a industrialização. Hoje, o que é? A produtividade no Brasil está estagnada há 40 anos. A performance do Brasil está muito aquém do que gostaríamos — relata Aldemir Drummond, professor de estratégia e organizações e coordenador da Iniciativa Imagine Brasil.
Um dos grandes diagnósticos, detalha, é de que o Brasil arrecada e gasta 20% a mais do que países de renda similar. Logo, tem custo 20% maior. Depois de reunir pequenos grupos para discutir, foram definidos três focos: produtividade, combate a mudanças climáticas e governança colaborativa - definição de políticas públicas com participação do setor privado e do chamado terceiro setor (entidades sem fins lucrativos que atuam na área social).
— A ideia é buscar prosperidade com equidade. A desigualdade no Brasil chegou a um nível intolerável, isso está claro para quase todos. O melhor caminho para sustentar o desenvolvimento é maior investimento em capital humano. Mas isso precisa ser feito com conceito de mobilidade social, as pessoas têm de enxergar a possibilidade de ascensão — detalha Drummond.
Para dar consequência ao trabalho, foram definidos indicadores para cada segmento, baseados no desempenho atual e onde se quer chegar até 2030. O trabalho é baseado em como reduzir a distância entre os dois pontos.
— Não estamos falando em uma mudança rápida, mas desejada. Em 1950, a produtividade de um brasileiro correspondia a 25% de um americano. Nos anos 1980 chegou a 46%, mas voltamos a 25%. O Nobel de Economia Paul Krugman costuma dizer que produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo. Então, para crescer no longo prazo, precisamos melhorar a produtividade — pondera o coordenador.
No primeiro ano de trabalho, o Imagine Brasil lançou um e-book sobre produtividade com especialistas no tema e outro com sete casos de governança colaborativa no Brasil - nem todos bem-sucedidos -, além de documento de análise sobre questões ambientais.
— Queremos criar um movimento para implementar as proposta escolhidas, de 50 a cem pessoas em cada segmento. O Brasil tem diagnósticos que são alavancas para crescimento, como a matriz energética, o mercado de créditos de carbono.
A segunda etapa vai propor ajustes na legislação brasileira, especialmente porque o Direito Administrativo dificulta o processo de governança colaborativa. Outra frente será a legislação que afeta a produtividade, que já identificou cerca de 5 mil projetos no Congresso, que vão de reforma tributária a abertura da economia.