Se orçamento já é peça de ficção no dia a dia da República, na campanha eleitoral vira peça de literatura fantástica. Só nos últimos dois dias, os dois candidatos que lideram as pesquisas de intenções de voto anunciaram um ministério cada.
Na quarta-feira (21), Jair Bolsonaro (PL), afirmou que vai recriar o da Indústria, Comércio e Serviços. Na quinta (22), foi a vez de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dizer que quer retomar o da Previdência — que, aliás, já voltou unido à área do Trabalho, depois de estar abrigado na superestrutura da Economia comandada por Paulo Guedes.
Socorro. Se os candidatos repetirem esse desempenho - um ministério por dia — ainda há risco de acréscimo de nove, ao menos até o primeiro turno da eleição. Como se sabe, a cada nova estrutura, mais gasto. E mais despesa onde menos é eficiente, ou seja, na máquina pública. Se ministério resolvesse problemas, quando chegou a acumular 37 o Brasil deveria ter se aproximado do paraíso.
Há pouco risco de que, uma vez eleito, qualquer um dos dois faça um decreto parecido com "faça-se um puxadinho na Esplanada, revoguem-se as disposições em contrário". Mas não vai faltar quem cobre, até porque as duas "promessas" mais recente — candidatas à extensa listas das esquecidas - foram feitas para públicos determinados. Bolsonaro sacou a pasta de Indústria e Comércio durante sabatina na Associação Brasileira de Supermercados (Abras):
— Há interesse nosso, sim. E a pessoa que for ocupar esse ministério seria indicada por vocês. Creio que seriam muito melhor geridas essas questões, para eu tratar de forma mais direta e com mais celeridade as suas sugestões — discursou Bolsonaro, em uma espécie de terceirização da gestão da República (que vem do latim "res publica", ou algo que pertence a todos).
No mesmo formato "customizado", Lula prometeu a volta do Ministério da Previdência Social em reunião com representantes de associações de aposentados e idosos:
— No meu partido, a gente tem cota de participação para jovem, mulher. A impressão que a gente tem é que a fila que existe na previdência é porque o governo acha que pode pagar menos para sobrar mais dinheiro, sobra para ele encher o bolso do orçamento secreto.
Em levantamento da coluna — alguma pasta pode ter sido perdida no caminho —, só Lula já anunciou a recriação de sete ministérios: Igualdade Racial, Desenvolvimento Agrário, Cultura, Direitos Humanos, Micro e Pequenas Empresas, Segurança Pública, e agora Previdência. Bolsonaro acumula três: Pesca, Segurança Pública e Indústria, Comércio e Serviços. Todas essas áreas têm problemas e oportunidades que merecem muita atenção. Precisam de política pública, não necessariamente um ministério.