As novas restrições, desta vez ao pagamento das importações na Argentina, levou a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) a buscar ajuda diplomática para enfrentar a situação. Nesta quinta-feira (7), o presidente da entidade, Haroldo Ferreira, conversou com o cônsul da Argentina em Porto Alegre, Jorge Perren, e articulou reunião com o chefe da chancelaria do país no Brasil, Pablo de Angelis, e o encarregado de negócios, Rodrigo Bardoneschi.
O objetivo, segundo Ferreira, é mostrar quando a nova medida pode prejudicar os negócios do setor calçadista brasileiro e gaúcho, que ainda têm pendências relativas a 2019 e 2020 com importadores argentinos.
Desde 27 de junho, o Banco Central da República Argentina (BCRA) alterou a forma de pagamento para importações. Para produtos que tinham licenças automáticas, caso de alimentos, por exemplo, o mercado de câmbio oficial fica disponível se as exportações não ultrapassarem 5% da média mensal de 2021. Para os que têm licenças não automáticas, caso dos calçados e alguns componentes, o acesso só é permitido 180 dias após o envio ao mercado. Ou seja, quem vender só recebe seis meses depois.
— Entendemos que a situação da Argentina é muito delicada, mas essa medida criou um grande ponto de interrogação. Do ponto de vista interno, com o aumento de fretes da Ásia cria risco de escassez de oferta, porque comprar da China ficou mais caro. O cônsul vai encaminhar nosso pedido de reunião à embaixada e vamos expor nossa preocupação — diz o presidente da Abicalçados.
A medida foi tomada pelo Banco Central da República Argentina (BCRA) ainda quando o ministro da Economia era Martín Guzmán, considerado mais moderado do que Silvina Batakis, nova ocupante do cargo. Em tese, diz Ferreira, vale por três meses, mas não há garantias de que não será renovada:
— Isso cria uma grande incógnita, até porque a Argentina é, historicamente, o segundo maior destino dos calçadistas nacionais.
Por que a Argentina restringe importações
A medida é parte de novo endurecimento do "cepo cambiario", como os argentinos chamam o conjunto de restrições a operações com dólar no país. "Cepo", tanto em espanhol como em gauchês, é onde se amarra algo. É esse o espírito das novas regras, adotadas para dificultar o acesso a dólares. Antes restrito a transações de pessoas físicas, agora afeta importações do setor privado.
O contexto é de escassez de reservas, com a alta nos preços internacionais de energia. Desde a data da decisão, as reservas, que haviam caído a US$ 38 bilhões — quase um décimo das brasileiras —, voltaram para a casa de US$ 42 bilhões (clique aqui para ver a variação). O objetivo é não deixar o nível de reservas internacionais argentinas cair abaixo do nível crítico, já que o país tem dívida de US$ 44 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI).