Não se trata apenas de proximidade no calendário: o desabamento das ações da Netflix, na semana passada, e a compra do Twitter por Elon Musk, na segunda-feira (25), têm mais do que o mês de abril em comum.
Na origem dos dois movimentos, está a mesma questão: esses negócios seguirão dando dinheiro? No caso da Netflix, a primeira perda de assinantes da história acentuou as dúvidas que já existiam sobre a rentabilidade da empresa. No do Twitter, apesar do discurso de Musk sobre liberdade de expressão, a inquietação é a mesma: dar lucratividade ao passarinho azul.
Os dois negócios têm em comum o valor de mercado inflado e multibilionário. A Netflix vale, pela cotação atual das ações (que seguem em queda), US$ 90,1 bilhões. O Twitter, depois de sete dias de fortes altas, está em US$ 38,4 bilhões. Ambos valem muito mais do que empresa com os chamados "ativos reais" — fábricas, instalações físicas — característica da ascensão das big techs.
Uma virada nos números da rede é o que se espera de Musk, que já foi capaz de transformar carros elétricos em objetos de cobiça — antes da Tesla, eram vistos como trambolhos inservíveis —, reciclar foguetes e até vender lança-chamas pelas redes sociais.
Para quem não entende porque Musk chama o Twitter de "praça pública virtual" no singular, sem referência a outras redes sociais — que ele não usa — precisa considerar que o passarinho azul é visto como um centro de debates políticos, econômicos e científicos supostamente mais intelectualizado do que Facebook, Instagram, e obviamente, TikTok. Claro, tudo depende de quem cada usuário segue, já que o passarinho azul não exige reciprocidade na relação, em tese.
O grande desafio de Netflix e Twiter é o mesmo: crescer, aumentar a rentabilidade, disputar mercado e visibilidade com rivais e entrar em novos negócios. Na Netflix, já se discute, por exemplo, inserção de anúncios na plataforma. No caso do Twitter, Musk sugere que o caminho do crescimento passa pelo aumento da credibilidade.
Vêm daí outras duas promessas, além da retirada de moderação: a extinção de "bots" (perfis falsos automatizados) e tornar público o funcionamento dos algoritmos, que definem o que cada usuário vê no seu feed. Se conseguir extinguir os "robozinhos", Musk já terá prestado um belo serviço às redes.
Para quem acha que só trumpistas e bolsonaristas apontam expectativas positivas a respeito das promessas de Musk, Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da EACH-USP, que não é nem um, nem outro, afirmou, no Twitter que agora pertence ao bilionário:
— Se cumprir a promessa de dar transparência ao algoritmo de ordenamento dos tuítes, Musk vai mudar completamente a indústria. Vai ser difícil os concorrentes — Facebook, Instagram, TikTok — manterem os algoritmos fechados alegando segredo industrial. Essa medida é muito bem-vinda.