A crise ocasionada pela pandemia impulsionou o mercado de cessão de créditos judiciais no Brasil. A constatação é da startup gaúcha DigCap, que negocia desses recursos.
Em dezembro de 2020, a empresa foi procurada para gerenciar a negociação de 30 ações. No mês passado, o volume subiu para 500.
A cessão de crédito é a transferência parcial ou total de uma ação para outra pessoa. Quem "vende" recebe o valor estimado na ação judicial com um desconto, chamado de deságio. Segundo Leonardo Stocker Pereira da Cunha, um dos sócios da empresa, há "imensa" necessidade de antecipar valores.
— O negócio cresceu bastante durante a pandemia. Muitos clientes precisaram vender seus processos por conta da crise. Muitas pessoas foram demitidas, em outros casos, foi o negócio que quebrou — detalha Cunha.
Outro fator que facilitou a atividade da empresa foi a digitalização de processos. A empresa analisa cada caso antes de aceitar a negociação. Em operação 100% digital, a DigCap conecta quem não pode esperar pelos longos prazos da Justiça e precisa ter acesso aos recursos a quem pode esperar e receber valor maior. Em média, a análise de cada processo leva cerca de 20 dias.
Em um dos casos negociados, um investidor da lawtech (startup jurídica) obteve lucro de 40% na aquisição de um processo trabalhista. A empresa intermediou a compra de um crédito trabalhista de R$ 130 mil, 33% do valor total da ação. Em 12 meses, o processo foi finalizado, e o valor da parcela chegou a R$ 185 mil.
Na plataforma, quem deseja "vender" uma ação é conectado ao investidor que oferecer a melhor oferta, em uma espécie de leilão. A ideia de criar a empresa surgiu com base em contatos com clientes do escritório de advocacia em que Cunha era sócio que manifestavam preocupação com a urgência em receber. Pensando em solucionar esse problema, ele criou a DigCap.
* Colaborou Camila Silva