Era só o que faltava. Depois da escassez de agulhas e seringas que marcou o início da vacinação, há quase exatamente um ano, neste início de 2022 a corrida aos testes de covid-19 deixou os laboratórios — e muitos postos de saúde — desabastecidos para atender à demanda.
Mas afinal, qual é exatamente a situação e qual a expectativa de normalização?
Nesta semana, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) recomendou que só fossem feitos testes em casos graves. Segundo Alex Galoro, diretor do comitê de análises clínicas da entidade, o que levou a esse posicionamento foi um aviso de falta de insumos feito por um associado, seguido da confirmação de vários outros, em reunião convocada pela Abramed para avaliar a situação.
— O grande problema foi desabastecimento, mesmo. As grandes redes começaram a ter dificuldade na reposição de algumas linhas de reagentes e percebemos que havia risco real de escassez sistêmica, ou seja, poderia não ter nem para casos mais graves. Conhecendo a histórias das outras crises de abastecimento, com seringas e agulhas, avaliamos que seria importante alertar a população.
Conforme Galoro, em algumas redes, a procura chegou a se multiplicar por cinco. Esse aumento exponencial, afirma, ocorreu em vários países. Como os reagentes são importados de China, Estados Unidos e Europa, os fornecedores deram prioridade ao abastecimento do próprio mercado. O executivo afirma que não houve interrupção total na entrega do Exterior, mas que ficou "fracionada". Quando a coluna quis saber quais tipos de teste está afetada, a resposta foi:
— Todos os relacionados à covid. O efeito é o aumento de prazo para agendar exames e entrega de resultados. E laboratórios menores tiveram até de suspender testes por falta de acesso a insumos —relata.
A expectativa da Abramed é de que a onda da Ômicron siga o padrão de África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos e o número de casos baixe em dois meses. A explosão da procura, relata Galoro, começou na última semana de dezembro. Foi interpretada como checagem para festas e viagens de final de ano, o que seria um aumento temporário. Mas foi se avolumando, à medida que cresceu o percentual de resultados positivos, que saltaram de 5% para 40%.
— Nossa esperança é de que, em fevereiro, ocorra reabastecimento, mas ainda não normalização. Deve começar a melhorar. Depende um pouco da redução na demanda dos outros países. Se der alívio nos EUA, alivia aqui.
Também vai depender, diz Galoro, da velocidade do desembaraço das importações. A Abramed já pediu apoio da Anvisa, da Polícia Federal e da Receita Federal para acelerar a entrada das "quantidades reduzidas" que seguem chegando e, se tudo der certo, dos volumes futuros liberados pelos países de origem. Embora atue apenas na representação dos laboratórios privados, a Abramed vê com preocupação a situação na rede pública:
— Há um subdimensionamento produtivo e do número de testes oferecidos. O volume que o Ministério da Saúde está mandando é pouco para as necessidades.
A coluna consultou o Grupo Fleury, dono do laboratório Weinmann no Estado. A empresa respondeu que "não está disponibilizando informações sobre os estoques" e que a rede local segue atendendo clientes para fazer testes de covid-19, com agendamento prévio.