A "perda de janela" para o lançamento de ações da Corsan, avalia o diretor-executivo da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), Percy Soares Neto, pode ser uma oportunidade para melhorar o projeto de privatização da companhia.
Como gaúcho e líder nacional do segmento, Soares Neto pondera que a Corsan tem "potencial para se tornar uma boa plataforma de negócios". Diz que, embora o governo gaúcho tenha ficado "premido" pelo calendário, ainda há uma oportunidade em abril.
— Agora é realmente uma bala só. Se perder essa segunda janela, entra em período eleitoral e acaba. O Estado vai ter de navegar entre esses dois limites, mas ganhou tempo de qualificar a relação com os municípios e avançar em questões regulatórias, fazendo com que esses avanços virem valor para a companhia.
Soares Neto diz que há, sim, interesse de mercado pela Corsan, citando os ágios gigantescos em leilões. Afirma que há "expectativa de sucesso" no segmento, exatamente por ser um projeto inédito:
— Se for levado a cabo, será uma referência nacional. Esse tipo de inciativa não foi adotada em nenhum outro Estado. Minas Gerais e São Paulo tentaram, mas não tiveram força política para fazer avançar.
Para o executivo, há "diferentes agentes de mercado que estão jogando por ter interesse em formatos diferentes de abertura de capital da empresa". Mas insiste que há "um trabalho a ser feito no âmbito do governo do Estado, do BNDES e dos bancos que coordenam a oferta de ações para "desenhar melhor a operação e trazê-la ao mercado":
— O adiamento pode permitir amadurecer alguns pontos, como o entendimento do TCE (Tribunal de Contas do Estado) sobre o projeto. Esse é um dos principais. Há ainda uma oportunidade enorme do Estado para aumentar a blindagem das agências reguladoras à interferência política. Quanto mais firme a regulação, mais o investidor se sente à vontade de colocar dinheiro no negócio. E novas valuations (avaliação do valor econômico-financeiro da empresa) terão de ser feitas.
No caso dos serviços de água e saneamento, além da Agência Estadual de Regulação do Estado (Agergs), as municipais também têm poder de normatizar e fiscalizar. Soares Neto pondera que, assim como há oportunidades decorrentes do adiamento, também há riscos:
—Deixou o governo muito premido. É uma operação única, e o projeto é ousado, diferente. Se não for muito bem calibrado, pode ser inviabilizado.