Há pouco mais de dois anos no cargo, Christian Gebara, presidente da Telefônica Brasil, dona da marca Vivo, tem pela frente uma das decisões mais importantes da história da empresa no país — o tamanho da aposta que fará no 5G — , mas divide o tempo com iniciativas locais, como o reforço da rede de fibra ótica no Rio Grande do Sul. Em entrevista à coluna, avisa que o apetite pela tecnologia de quinta geração "já está lá", mas também que não se esperem grandes ágios no leilão previsto para 4 de novembro, porque os custos para as operadoras já estão altos. Faltam só 19 dias para a entrega dos envelopes, marcada para o dia 27. Segundo Gebara, a Vivo, que começou mais forte na telefonia móvel, também quer reforçar sua atuação na conexão por fibra, que permite banda ultra larga.
A Vivo vai com apetite para o leilão de 5G?
O leilão terá frequências ainda para as tecnologias anteriores, mas a maior atenção é para os lotes de 3,5 giga-hertz (GHz). O foco é a frequência para poder operar o 5G com qualidade e velocidade. Será uma disputa muito cara, não pelo direito de uso, mas pelas obrigações, que vão da limpeza das frequências hoje ocupadas, por exemplo, por antenas parabólicas, com a cobertura de internet para a Amazônia e uma rede segura do governo. Temos interesse, com certeza. Como operadora líder, a Vivo quer, sim, ter uma frequência 3,5 GHz. O apetite já está lá. Mas não deve ter ágio gigante, como se viu em outros leilões. Com tantas obrigações associadas, o ágio já foi incluído.
Trazer infraestrutura para um país tão grande exige preocupação com segurança e proteção de dados. Mas não há nenhum caso comprovado de problemas de segurança com qualquer um desses fornecedores.
Com a rede privativa do governo, as operadoras poderão escolher as fornecedoras, inclusive a Huawei,?
Sim, foi um grande avanço. A liberdade de escolha de fornecedor garante que os recursos sejam destinados à construção da nova rede, não a mudanças no que já existe. Há poucos fornecedores de tecnologia de acesso. No Brasil, atuam Huawei, Ericsson e Nokia, e a competição é muito relevante. Trazer infraestrutura para um país tão grande exige preocupação com segurança e proteção de dados. Mas não há nenhum caso comprovado de problemas de segurança com qualquer um desses fornecedores.
É viável ter 5G funcionando em meados de 2022?
Sim, nas capitais a expectativa é essa, com cobertura mais limitada. O edital define o número de sites (pontos de partida do sinal 5G) por população, que cresce ao longo dos anos. Alguns pontos das principais cidades terão cobertura. É importante lembrar que será preciso ter aparelho condizente com o 5G. O edital requer o 5G stand alone, que é o mais avançado. Já existem experiências com o 5G DSS. Mas o objetivo é ambicioso.
Nos próximos meses, vamos elevar de 18 para 38 o número de cidades onde há fibra até em casa no Estado.
O que a Vivo prevê para o Estado?
Antes do 5G, temos uma novidade com fibra ótica. A Vivo tem 46,35% de participação no mercado de telefonia móvel no Rio Grande do Sul, é líder no pós-pago, com 45,11% e no pré-pago, com 48,27%. Construímos uma história de móvel, agora queremos reforçar uma história de fibra, a tecnologia que dá velocidade de banda ultra larga, que a Vivo não tinha. Com a compra da GVT, a empresa ganhou boa presença no Estado, mas queremos aumentar. Hoje, temos esse serviço até a casa dos usuários em 18 cidades, em outras 10 existe fibra até perto de casa, sem a última milha. Nos próximos meses, vamos elevar de 18 para 38 o número de cidades onde há fibra até em casa no Estado. O número de usuários potenciais vai subir de 765 mil para 1,087 milhão. É um dos maiores crescimentos em número de domicílios que a Vivo faz em um Estado. Vamos chegar a Ivoti, Dois Irmãos, Taquara, Erechim, Charqueadas, Bagé, a cinco litorâneas — Torres, Capão da Canoa, Osório, Xangri-lá e Tramandaí — e oito na Serra — Gramado, Canela, Carlos Barbosa, Flores da Cunha, Garibaldi, Nova Petrópolis, São Marcos e Veranópolis.
Por que a aposta em fibra aumentou?
Há uma tendência de digitalização das casas, e a gente acredita nisso. Durante e depois da pandemia, as pessoas querem estar conectadas, com acesso a educação, saúde. Estamos construindo uma cobertura de rede de fibra para suportar esse crescimento. Hoje, estamos conectados pelo computador e a TV. Amanhã, vai ser geladeira, outros eletrodomésticos. Como são várias pessoas se conectando ao mesmo tempo, permite escoar dados com mais qualidade e quantidade. E também porque queremos mostrar que tem tudo na Vivo, para mobilidade, fibra para a casa. E também porque vamos lançar em breve novos serviços de saúde, educação, inclusão financeira, carteira digital, com a Vivo Pay. Queremos criar um ecossistema digital em torno do cliente.
Que adaptações a Vivo teve de fazer na pandemia?
O padrão do tráfego mudou, o consumo foi maior do que o habitual. Mas temos capacidade para responder a esse aumento de demanda. Outra mudança foi o aumento no consumo de uploud (para levar dados à rede) não só para download (para 'baixar' dados da rede). Foram inspirações para reforçarmos a rede de fibra, que tem desempenho muito bom e nos deu um ganho de percepção de qualidade de serviços. Mas como nossas equipes precisam estar em campo, fazendo as instalações e manutenção nas casas, e tivemos de levar call centers inteiros para dentro das casas dos funcionários, o grande desafio foi interno.