O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
O conceito de sustentabilidade está cada vez mais presente no cotidiano das empresas líderes em seus setores de atuação. Mais do que consciência ambiental, a produção sustentável é agora uma exigência. Na indústria gaúcha não é diferente, conforme explica o coordenador de Meio Ambiente da Fiergs Newton Battastini.
Como essa exigência ocorre, na prática, no setor industrial?
As indústrias gaúchas, em sua grande maioria, têm em sua cultura a busca por melhores práticas. Há evoluções contínuas na maneira de operar e produzir. Além disso, o Estado tem importante posição na exportação brasileira, o que também faz com que a nossa indústria esteja sempre atenta às exigências e tendências que se apresentam no mercado internacional, em geral atendendo a públicos exigentes. Regulações, por exemplo, que estão além das legislações internas do nosso país.
Qual é o diagnóstico atual do setor industrial gaúcho?
Um bom exemplo que diferencia o Rio Grande do Sul de outros estados brasileiros é a nossa legislação ambiental. Em linhas gerais, essa já é bastante diferenciada, temos órgãos ambientais de forte expressão e atuação e, além disso, temos desenvolvido no Estado um trabalho conjunto entre setor público e privado que busca melhorar, adequar as legislações. Podemos citar como exemplo os avanços conquistados conjuntamente na área de energias renováveis como Eólica, Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCHs e Solar, incentivando a geração de energia alinhada à sustentabilidade.
O que ainda precisa avançar?
Entendemos que estamos no caminho. Vivemos um tempo no qual a tecnologia avança rapidamente, além de estarmos cada vez com maior acesso ao que nossos stakeholders (partes interessadas) estão pensando, as expectativas e itens de maior relevância para eles. Essa tecnologia dinâmica e o acesso mais fácil às aspirações das partes interessadas geram uma tendência de avanços contínuos, na busca por alinhar as mais modernas tecnologias para a conservação ambiental e atendimento a esses desejos dos diversos stakeholders envolvidos nos processos. As parcerias, produção conjunta entre os diversos atores sociais na construção e adequação de legislação, também se mostram muito promissoras, o que certamente traz ganhos para a sociedade gaúcha, sendo salutar avançar e consolidar-se como prática cada vez mais presente nos diversos aspectos de tomadas de decisão.
Em que segmentos isso é mais acelerado e como a indústria gaúcha tem se preparado?
O ESG ganhou um pouco mais de atenção na mídia em especial no último ano, mas dentro de muitos espaços organizacionais já é uma das ferramentas norteadoras do trabalho. Podemos citar o setor de florestas e os requisitos do selo FSC (Forest Stewardship Council), que embora sejam uma “sigla” diferente, tem objetivos parecidos. O FSC tem critérios e princípios que conciliam viabilidade econômica com cuidados ambientais e benefícios sociais. Recentemente, tivemos no Estado também amplamente noticiado um alto investimento, cujo um dos principais objetivos é a ampliação do atendimento aos princípios ambientais, sociais e de governança (ESG). Não é possível citar uma ou outra empresa, visto que ESG não é uma receita pronta que serve para todas as empresas, mas cada uma tem buscado a sua jornada de forma alinhada a sua cultura e ramo de negócio.
Que benefícios esse posicionamento gera nos negócios?
Os benefícios são gerados desde o ambiente interno até benefícios planetários, com o a melhora do clima organizacional, gerando maior engajamento dos colaboradores, e a redução das emissões de carbono. Esse é só um exemplo e as indústrias cada vez mais interagem com as comunidades onde estão inseridas, criando um ambiente de comunicação e sinergia, buscando alinhar os objetivos organizacionais para a convergência com os objetivos e peculiaridades sociais. Um negócio que atinge um nível de engajamento de stakeholders internos e externos, ganha em estabilidade e atingimento de objetivos, ao passo que todos “remam para o mesmo norte”.
Existem metas para a indústria gaúcha no que se refere às emissões, uso racional de água e energia, por exemplo?
O setor busca alinhamento com o que é proposto para o nosso país. O Brasil é signatário do acordo de Paris, que determina as necessidades de redução dos gases de efeito estufa, conter o aumento da temperatura na média global, tratando assim a questão das mudanças climáticas. Esses dispositivos se desdobram em ações nos diferentes cenários e atores sociais, trazendo assim os objetivos para o planejamento das indústrias. Estamos sempre atentos e buscando novas formas de melhorarmos ainda mais o nosso desempenho. A indústria atua também com relação à água e à energia. No quesito energia, como citado anteriormente, a indústria está engajada para que a energia limpa tenha incentivos e seja potencializada.