No início do ano, a Petrobras anunciou que passava a negociar detalhes da venda da Refinaria Alberto Pasqualini (Repar) diretamente com o Grupo Ultra, dono da rede de postos Ipiranga.
Nesta quinta-feira (6), em teleconferência com analistas de mercado que a coluna acompanhou, o CEO do Ultra, Frederico Curado, previu a assinatura definitiva dos contratos para "meados do ano".
Segundo informações de mercado, o valor pago pela refinaria gaúcha estaria entre R$ 1,2 bilhão e US$ 1,4 bilhão (de R$ 6 bilhões a R$ 7,5 bilhões). Nem Petrobras nem Ultra confirmaram esses valores até agora.
— Começamos a negociação com a Petrobras no início do ano e não houve interrupção com a nova direção da empresa. São vários contratos, porque além do de compra e venda, há vários auxiliares. Houve até aceleração do processo. Ocorreu aditamento do compromisso da Petrobras com o Cade de prazos e metas para assinar contratos em que já houve seleção de comprador, que é o nosso caso, até meados do ano — disse Curado.
Os analistas também perguntaram sobre eventuais riscos envolvidos na política de preços da estatal, já que foi a aplicação da atual estratégia de alinhamento com o mercado internacional que provocou a demissão do então presidente Roberto Castello Branco.
— Claro que é uma ameaça estrutural no Brasil, mas também é, justamente, um dos grandes motivadores para quebra do monopólio da Petrobras no refino. Haverá haverá dinâmica muito diferente na medida em que se privatiza 50% da capacidade instalada de refino no Brasil. Só a RLam (unidade na Bahia vendida ao fundo soberano de Abu Dhabi por US$ 1,6 bilhão) e a Refap juntas representam 20%. O Brasil é importador estrutural de derivados e não haverá novos investimentos em grandes refinarias, do porte da Refap, com capacidade de 200 mil barris por dia — respondeu Curado.
Segundo o executivo, "depois das aventuras de 2015" — menção à estratégia do governo Dilma de não repassar aumentos no Brasil — , o estatuto da Petrobras explicitou a política de alinhamento.
— Reforçou a incapacidade do governo de interferir em preço da Petrobras, como se identificou no ruído recente. Tirando toda a confusão e a mudança na liderança da empresa, o fato é que os preços continuam flutuando de acordo com o mercado.
Além de estar na reta final da compra da Refap, o Grupo Ultra confirmou interesse no setor de um outro ativo gaúcho que deve ser privatizado em breve, a Sulgás. Curado não falou especificamente na estatal gaúcha que tem a Petrobras como sócia, mas ao ser perguntado sobre o interesse no setor de energia e gás natural, confirmou:
— Vamos entrar em algum elo em algum momento. Temos intenção bastante firme de entrar nessa cadeia, sim.
Diante de tamanho apetite, é claro que surgiu a pergunta sobre a "alavancagem" do Ultra em fase de alta na taxa básica de juros. Curado afirmou que há, sim, cuidado com o atual endividamento do grupo, mas a direção está "longe de estar preocupada com liquidez":
— Estamos mais focados na restauração da capacidade de fazer novos investimentos.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo