A causa do aumento de preços da cesta básica e de outros produtos de consumo não é falta de "patriotismo" de donos de supermercados, que são tão vítimas quanto as famílias, disse à coluna André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
– Os donos de mercadinho são tão vítimas quanto as famílias. Como vai ser patriota comprando caro e vendendo barato? No limite, isso vai produzir desemprego, porque cria mais incerteza na economia, que é a raiz de todo o mal.
Às vésperas do dia Sete de Setembro, o presidente Jair Bolsonaro pediu "patriotismo" aos donos de supermercado, ao responder sobre a alta de preços. Nesta quarta-feira (9), a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), ligada ao Ministério da Justiça, notificou empresas e associações ligadas à produção e distribuição de alimentos para que listem as maiores altas de preço e os principais fornecedores. Para a coluna, isso corresponde a uma espécie de "assédio patriótico".
Braz pondera que as causas dos aumentos estão ligadas à desvalorização do real em relação ao dólar e ao aumento no consumo, ainda que pequeno, gerada pelo relativo aumento de renda durante a pandemia. Entre agosto de 2019 e agosto passado, o dólar subiu 36% em relação ao real. Isso fez com que os produtos brasileiros ficassem mais baratos para compradores estrangeiros, o que elevou a exportação e reduziu a oferta no Brasil. Além dos reflexos já percebidos, tem mais reajuste por vir, alerta:
– O índice de preços no atacado subiu 5% em agosto. É um indicador muito sensível aos preços de matérias-primas básicas. O trio parada dura formado por milho, soja e trigo subiu muito. O minério de ferro, que já havia subido 9,27% em julho saltou 17,1% em agosto. Quase dobrou a variação, porque a China não para de comprar. Como a moeda do Brasil está muito desvalorizada, nossos produtos estão baratos. Esse aumento do minério de ferro no atacado vai chegar ao consumidor em produtos como fogão, geladeira e máquina de lavar, que usam muito aço.
A velocidade com que esses reajustes vão chegar ao consumidor depende dos níveis de estoque. Os alimentos, diz Braz, são repassados quase imediatamente. Embora avalie que para as camadas de menor renda, cujo consumo é muito concentrado em alimentos, não há como não chamar esses aumentos de "inflação", o especialista pondera que, para a classe média, não se trata de uma alta generalizada de preços, como definem os manuais de economia. Não se trata, portanto, de descontrole inflacionário, que seria raro em ambiente recessivo como o atual.