Depois de negar problemas e garantir que as medidas para facilitar o crédito estavam adequadas, o governo federal finalmente se rendeu às evidências. Um parceiro nesse esforço, o Sebrae, constatou que 60% dos donos de pequenos negócios tiveram pedido de crédito negado desde o início da crise. O maior desafio são as garantias exigidas pelos bancos para conceder empréstimo, que reforçam o velho ditado de que só financiam quem provar que não precisa. Depois de fazer previsões sombrias para a economia brasileira em 2020, a equipe econômica enfim reconheceu os problemas e prometeu novas medidas para a próxima semana. Antes tarde do que mais tarde.
O aceno de alívio do governo é dirigido exatamente a esse segmento com maiores dificuldades de acesso a crédito. Conforme dados do Banco Central, em março o saldo de crédito subiu 9% para companhias de maior porte e apenas 2% para as menores.
Mais do que reais condições de quitar o valor antecipado, detalhou o Sebrae, há problemas básicos como a falta de documentação necessária, como um balanço patrimonial estruturado. Uma parceria entre a Caixa e o Sebrae usa o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe) da entidade empresarial para reduzir a dificuldade de oferecer garantias em uma linha de até R$ 7,5 bilhões.
Segundo análise do setor financeiro, o problema é que o fundo cobre até 80% da inadimplência inicial, mas deixa o restante da carteira a descoberto. Ou seja, não resolveu o real problema. O temor de calotes fez o juro subir, justo quanto a referência está na mínima histórica. Diante das pressões, recuou, mas em patamares ainda muito elevados.
Há dificuldades adicionais, como o fato de que a exigência de estar em dia com obrigações em relação a órgãos federais, como o INSS, está prevista na Constituição. Para flexibilizar, seria necessária uma emenda constitucional, votada em dois turnos na Câmara e no Senado. Um dos papéis dos governos neste período de crise sanitária e econômica é exatamente encontrar soluções para amenizar o impacto do coronavírus na economia.
Na quarta-feira (14), ao prever queda de 4,7% no PIB deste ano, a Secretaria de Política Econômica também estimou perda de R$ 20 bilhões por cada semana a mais de isolamento social. Faltou projetar quanto desse prejuízo poderia ser evitado com formas eficientes para fazer o crédito chegar onde é mais necessário.
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