Espécie de símbolo da virada na política de conteúdo nacional da Petrobras, a P-69 começou a operar na terça-feira (23) na Bacia de Santos. A plataforma é a oitava instalada no Campo de Lula, mais um símbolo de outra fase na exploração e produção de petróleo. A área era conhecida como Tupi até começar a operar em fase comercial. A partir de então, mudou de nome para seguir a tradição da Petrobras de batizar campos de petróleo com nomes de organismos marinhos, mas foi uma óbvia homenagem ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em cujo governo houve a descoberta no pré-sal.
Começou a ser produzido na Ecovix, em Rio Grande, parte do que chegou a ser conhecido como "fábrica de cascos". Com a demora na conclusão e os custos crescendo, a Petrobras, já no governo Temer e sob a presidência de Pedro Parente na estatal, decidiu enviar o casco para a China para ser finalizado. A construção foi concluída no estaleiro Cosco, e a integração dos módulos (etapa em que o casco vira plataforma) foi feita no Brasfels, no Rio de Janeiro. A Ecovix entrou em recuperação judicial e luta para sobreviver.
Outros dois cascos – os destinados às plataformas P-67 e P-70 – tiveram o mesmo destino: começaram a ser construídos em Rio Grande e foram enviados para conclusão na China. O que se converteria na P-71 teve desfecho ainda mais radical: a montagem foi interrompida em Rio Grande, o projeto passou para a China, e o que já estava pronto foi vendido como sucata. A sucessão de episódios marcou o fim do projeto de construção de cascos da Petrobras.
Com as novas regras, a exigência de conteúdo local diminuiu, o que cria algumas oportunidades para empresas brasileiras, mas torna quase inviável construir cascos no país. A P-69 é do do tipo FPSO (unidade flutuante de produção, armazenamento e transferência de petróleo e gás, que tem formato semelhante a um navio). Vai operar a cerca de 290 quilômetros da costa do Estado do Rio, em profundidade de água de 2.150 metros. Tem capacidade para processar até 150 mil barris de óleo por dia, além de comprimir até 6 milhões de metros cúbicos diários de gás natural.
Descoberto em 2006, o campo de Lula é o maior em produção de petróleo no país – corresponde a 30% de todo o petróleo extraído no Brasil. É operado por consórcio liderado pela Petrobras (65%), em parceria com a Shell Brasil Petróleo (25%) e a Petrogal Brasil (10%).