Diante das pressões do Planalto para que o Banrisul entrasse, de alguma forma, no plano de recuperação fiscal do Estado, era inevitável que um dos cinco últimos bancos estaduais do país – os demais são Banestes (ES), BRB (DF), Banpará (PA) e Banese (SE) – fosse alvo de monetização. A escolhida pelo governo gaúcho, de oferecer 49% das ações ordinárias e 14% das preferencias, sem abrir mão do controle, embute o risco de reforçar a imagem do Banrisul como caixa automática do Estado em apertos.
Quando um ativo vira refúgio diante de situações de desespero, perde valor. Esse diagnóstico apareceu na baixa de 10,87% nas ações desta quarta-feira (4). O Piratini quase repete a estratégia do governo Yeda Crusius. Em 2007, a justificativa foi estrutural – formar um fundo de previdência. A boa intenção não sobreviveu às vésperas da eleição. No afã de gerar “agenda positiva”, o fundo foi resgatado e aplicado em rodovias que, a essa altura, sem recursos para manutenção, devem estar cheias de buracos, como os cofres do Estado.
Se há um argumento válido para a precipitação é o momento do mercado de capitais. A bolsa quebrou recordes sucessivos, e mesmo com pequena correção nesta quarta, orbita acima de 76 mil pontos, o que não ocorria desde 2007.
As principais diferenças, em relação a uma década atrás, são a venda de ações ordinárias e o destino dos recursos. A primeira significa que o Piratini pode vir a ter um sócio estratégico, caso haja concentração desses papéis. O governo assegura que a estratégia é venda pulverizada, mas nada impede que, uma vez no mercado, blocos de ações sejam consolidados por um acionista. Precisará de autorização do Banco Central (BC), mas não está fora de cenário.
A segunda é mais inquietante: o Piratini não esconde que, por meio de mecanismos contábeis, quer usar o resultado da venda para pagar despesas correntes, como a folha de pagamento. Caso as demais etapas do plano de recuperação não avancem, o desfecho pode ser o mesmo dos bilhões da CEEE: desaparecerão nas engrenagens públicas sem representar melhora significativa.