Pelo segundo ano consecutivo, a Embraer é a empresa mais inovadora do país, segundo o 3º Anuário Brasil Inovação, produzido em parceria pelo jornal Valor e a consultoria PwC. A empresa é parceira da Uber no desenvolvimento do "carro-avião", um pequeno veículo elétrico que vai decolar e aterrissar verticalmente que poderá vir a ser usado em cidades. O vice-presidente de manufatura da companhia, José Luiz Fragnan, estará em Porto Alegre no dia 11, a convite da Amcham, para o Seminário de Gestão Industrial. Fragnan não apenas pratica inovação. Também estuda e pesquisa. Recentemente, estruturou uma consulta abrangente sobre o tema no país.
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Como a Embraer consegue ser uma exceção à regra de que é mais difícil inovar em grandes empresas?
De fato, apesar do tamanho, a Embraer tem foco muito forte em inovação. Mas é bom destacar algo importante. A inovação na Embraer não é só voltada ao uso exclusivo e direto em aviões (produto final da empresa). A indústria aeronáutica é um ambiente muito competitivo, exige que o foco em tecnologia e inovação seja constante. E não só em produto, mas no modelo de negócios, na relação com os parceiros, no posicionamento da empresa. A Embraer trata de inovação em toda a cadeia de produção, não apenas no produto.
Na prática, é melhor blindar a área de inovação ou o contrário, disseminar a cultura?
A Embraer trabalha muito com estímulo à inovação. Em uma empresa grande, isso tem de ser estimulado. Falamos muito em ter um ambiente inovador. É importante observar um dado do programa mais longevo que temos, o Boa Ideia. Nos últimos 17 anos, contribuiu com cerca de 90 mil ideias implementadas. É um programa de inovação espontâneo. A gente convida todo e qualquer funcionário a trazer uma boa ideia. Pedimos que, se estiver evidências de tarefa que pode ser feita melhor, possibilidade de ter dispositivo que ajude, modelo de trabalho diferente, que apresente. Temos um comitê que julga e avalia esse programa. Surgem questões desde pequenas vantagens ergonômicas, que proporcionam algum ganho financeiro até grandes ideias que trazem resultados expressivos na melhoria dos processos.
Há algo mais estruturado?
Falando em inovação gerenciada, programa Innova. Se alguém tem uma ideia que necessite de mais elaboração, desenvolvimento de protótipos, e o escopo está dentro do nosso portfólio, a empresa garante recursos para o inovador, máquina para prototipagem, tempo de pesquisa durante o período de trabalho. É um programa que estimula ideias que consigam romper paradigmas.
E quais os resultados?
O conceito de inovação na Embraer não é ter uma ideia. O conceito é ideia, aplicação, mais o resultado que gera. Se ficou no papel e não foi implementada, não é inovação. Se foi implementada, para ser inovação tem de trazer resultado. Temos vários indicadores. Um que é bem explícito é que, atualmente, 50% dos nossos resultados são gerados por produtos ou serviços implementados há cinco anos ou menos. Temos validado essa inovação permanente para gerar resultados, para desenvolver um novo avião. É importante observar que o ciclo de um avião, nosso principal produto, tem de seis a oito anos. E metade do nosso faturamento vem de itens que tem menos duração do que um ciclo do produto.
Qual a origem desse aprendizado?
Diria que vem da nossa história. Desde o nascimento, sempre fomos pioneiros. Hoje a Embraer é a maior fabricante de produtos de alta tecnologia do Brasil. E tudo começou no Brasil dos anos 1970 na indústria aeronáutica. O Brasília (turboélice bimotor de uso regional que foi sucesso na década de 1980) voa até hoje. Estamos sempre lançando produtos, processos, abrindo mercados, transformando o modelo de gestão, atualizados com realidade. Um dado importante é o investimento intensivo, de 10% da receita, feito anualmente pela Embraer. É muito superior à média de mercado, inferior a 2% ao ano. É um indicador da importância que a empresa dá a pesquisa e desenvolvimento. Para nós, é uma questão de sobrevivência. Se não seguirmos colocando novos produtos no mercado, fica difícil assegurar a manutenção da empresa.
Qual a relação entre sua pesquisa e a Embraer?
Foi uma pesquisa acadêmica, para um MBA que estava fazendo. O objetivo era identificar o que caracteriza uma empresa inovadora. Um dos motivos é o fato de que inovação é um assunto muito vivo na Embraer. Um dos nossos valores escritos é "ousadia e inovação são a nossa marca". Desde a origem, a Embraer é uma empresa inovadora.
Quais as principais conclusões?
A pesquisa confirmou percepções mas também trouxe surpresas. Reiterou, por exemplo, que empresas menores são mais inovadoras. O papel das pequenas empresas é mais intenso na inovação. É preciso lembrar que, apesar de um bom número de respostas, é uma pesquisa limitada, mas dá boas pistas. Um aspecto inesperado foi o fato de que nem todas as empresas inovadoras tem um departamento específico de pesquisa e desenvolvimento. E uma curiosidade é o fato de que as empresas mais inovadoras trabalham menos com aquisições e mais com crescimento orgânico.