Enquanto o mercado interno recém começa a desengatar a marcha à ré, as exportações de automóveis iniciaram o ano cantando pneu. Em um ritmo até mais acelerado em relação ao país, as vendas externas a partir do Rio Grande do Sul – onde a única montadora é a General Motors (GM) – bateram recorde no primeiro trimestre.
Nos três meses iniciais de 2017, o Estado despachou ao Exterior mais de 15,9 mil unidades, 168% acima do mesmo período do ano passado. Com alta de 148%, a receita bateu nos US$ 130,7 milhões.
A Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) atribuiu a disparada das exportações ao esforço das montadoras para amenizar a retração do mercado doméstico, devido à recessão no Brasil. As fabricantes instaladas no país venderam para o Exterior 145 mil automóveis, alta de 47% em comparação com o primeiro bimestre de 2016, conforme dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
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Algumas empresas chegaram a criar diretorias específicas para diferentes países da América do Sul, principal destino das exportações brasileiras. Para o ex-presidente da Ford no Brasil Luiz Carlos Mello, diretor do Centro de Estudos Automotivos, 2017 tem tudo para ser o ano em que o país vai bater o recorde de exportação de automóveis.
A busca pelo Exterior, diz o especialista, é fruto de uma longa preparação de mercados em países como Chile e Colômbia, onde os fabricantes organizaram revendedores, trabalharam a comunicação dos veículos produzidos no Brasil e asseguraram que não faltariam autopeças para reposição.
– É um trabalho que começou a se configurar há pelo menos quatro anos, quando se iniciou este momento de depressão no mercado brasileiro. Agiram dessa forma por simples falta de opção. Ao mesmo tempo, são países considerados periféricos para as exportações de suas matrizes e bases nos Estados Unidos, Europa e Japão – diz Mello.
Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria especializada Jato, entende que o aumento das exportações é resultado do câmbio e do fato de ser a única alternativa para desovar a produção, que já está baixa, com as fábricas registrando mais da metade da capacidade ociosa.
– Exportação é oportunidade de longo prazo, para não depender apenas do mercado interno, mas precisamos ter veículos melhores – diz Milad, lembrando que, hoje, o Brasil vende somente para América Latina e um pouco para a África.
No caso do Rio Grande do Sul, as exportações no primeiro trimestre se limitaram à América do Sul. O principal destino continuou a Argentina, que praticamente dobrou as compras, seguido pelo Chile. Para os dois especialistas, apesar da tendência de recorde no ano, os embarques devem arrefecer no segundo semestre, à medida que a demanda interna for se recuperando.
*Interino